Cinco municípios da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Comcam) tiveram a água potável contaminada com substâncias que oferecem risco à saúde, e alguns até passíveis de gerar doenças como câncer, nos anos de 2018, 2019 e 2020. O dado é do Mapa da Água, realizado pela Repórter Brasil, organização de comunicação e projetos sociais e publicado pela Agência Pública na segunda-feira (7).
Foram avaliadas a qualidade e os riscos oferecidos pela água distribuída em 763 cidades brasileiras. Os testes foram feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde.
Todos os 25 municípios da região da Comcam foram avaliados, entre as mais preocupantes estão Altamira do Paraná, Araruna, Farol e Quarto Centenário que continham substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas na população, como câncer. Já em Campina da Lagoa, foram encontradas outras substâncias que geram riscos à saúde. Nos outros 20 municípios, o que inclui Campo Mourão, todas as substâncias estavam dentro do limite de segurança.
Segundo a Agência Pública “Todos nós bebemos pequenas doses diárias de substâncias químicas e radioativas. São agrotóxicos e outros resíduos da indústria que se misturam aos rios e represas. Alguns especialistas defendem que não há risco se elas estiverem dentro do limite regulamentado. Outros argumentam que as doses aceitas no Brasil são permissivas, pois são bem mais altas que as da União Europeia.”
Confira quantas e quais substâncias foram encontradas em cada cidade:
Altamira do Paraná: os testes identificaram a presença de sulfeto de selênio, uma substância considerada cancerígeno pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, podendo provocar descoloração da pele, deformação patológica, perda de unhas e cabelo, cárie, falta de agilidade mental e apatia.
Historicamente, o principal uso do selênio foi na indústria eletrônica como fotorreceptor para fotocopiadoras. Hoje, é utilizado em aço inoxidável, esmaltes, tintas, borracha, baterias, explosivos, fertilizantes, ração animal, produtos farmacêuticos, e shampoos
Araruna: os testes identificaram a presença de 2,4,6 triclorofenol, substância classificada como provavelmente cancerígeno pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Sua avaliação indica que essa substância pode produzir linfomas, leucemia e câncer de fígado via exposição oral. Pode ser formada a partir do processo de desinfecção, quando o cloro é adicionado à água. Ela é utilizada como anti-séptico, agrotóxico para preservar madeira e o couro e como tratamento anti-mofo. Também é usada na fabricação de outros produtos químicos.
Também foi identificada a presença de uma substância que gera riscos à saúde, os ácidos haloacéticos dicloroacético, tricloroacético, bromoacético e bromoacético. Estes são classificados como possivelmente cancerígenos para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde. Em altas concentrações, os ácidos haloacéticos também podem gerar problemas no fígado, testículos, pâncreas, cérebro e sistema nervoso. Os ácidos haloacéticos são classificados como subprodutos da desinfecção, formado quando o cloro é adicionado à água para matar bactérias e outros microorganismos patogênicos.
Campina da Lagoa: a cidade aparece com detecções acima do limite de segurança com a substância que também gera riscos à saúde que são os trihalometanos. São um grupo de compostos químicos e orgânicos que derivam do metano. Ele inclui substâncias como o clorofórmio, classificado como possivelmente cancerígeno pela IARC. A exposição oral prolongada a esta substância pode produzir efeitos no fígado, rins e sangue.
Os trihalometanos são utilizados como solvente em vários produtos (vernizes, ceras, gorduras, óleos, graxas), agente de limpeza a seco, anestésico, em extintores de incêndio, intermediário na fabricação de corantes, agrotóxicos e como fumigante para grãos. Alguns países proíbem o uso de clorofórmio como anestésico, medicamentos e cosméticos.
Farol: Entre as cinco cidades da Comcam a mais preocupantes é Farol, na água do município foram encontradas 11 substâncias, 4 com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer. Outras 7 substâncias que também geram riscos à saúde.
Substância com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer:
Aldrin + Dieldrin, estas substâncias são classificadas como provavelmente cancerígenos para o ser humano pela IARC. São proibidos para uso tanto no Brasil quanto na União Europeia. Ambos são Poluentes Orgânicos Persistentes, substâncias que não se degradam facilmente e que se acumulam em tecidos dos organismos vivos. Além disso, eles se movimentam por longas distâncias e com facilidade pelo ar, água e solo, colocando em risco a saúde humana e o meio ambiente. O Brasil é signatário da Convenção de Estocolmo, que tem como compromisso eliminar todos os estoques e resíduos desses poluentes.
O agrotóxicos clordano pode causar distúrbios endócrinos, ou seja, alterações que afetam o sistema hormonal, de acordo com análise realizada pela União Europeia. Além disso, é classificado pela IARC, como possivelmente cancerígeno para humanos. O uso do inseticida é proibido tanto no Brasil quanto na União Europeia. O agrotóxico é classificado como altamente perigoso pela Pesticide Action Network e faz parte da lista de Poluentes Orgânicos Persistentes, substâncias que não se degradam facilmente e que se acumulam em tecidos dos organismos vivos. Além disso, eles se movimentam por longas distâncias e com facilidade pelo ar, água e solo, colocando em risco a saúde humana e o meio ambiente. O Brasil é signatário da Convenção de Estocolmo, que tem como compromisso eliminar todos os estoques e resíduos desses poluentes.
O agrotóxico DDT + DDD + DDE também apareceram na pesquisa. O inseticida DDT é classificado como provavelmente carcinogênico segundo a IARC. Seu uso é proibido tanto no Brasil quanto na União Europeia e é avaliado como altamente perigoso pela Pesticide Action Network. DDE e DDD são produtos derivados da degradação do DDT.
A substância chumbo é classificada como provavelmente cancerígeno para o ser humano, pela IARC. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, não há nível seguro de exposição ao elemento, especialmente para crianças, que podem desenvolver problemas de comportamento, de aprendizado e de crescimento. O chumbo pode causar danos ao sistema neurológico, hematológico, gastrintestinal, cardiovascular, reprodutor e renal. Depois de entrar em contato com o chumbo por longos períodos de tempo, adultos tiveram aumento da pressão sanguínea, danos renais e efeitos neurológicos. As diversas formas do metal são utilizadas como ingredientes em soldas, lâminas de proteção contra raios X, material de revestimento na indústria automotiva, revestimento de cabos, placas de bateria, esmaltes, vidros, componentes para borracha, tintas e pigmentos.
Substância que também geram riscos à saúde:
O carbofurano, exposição a este agrotóxico pode causar alterações no tecido testicular, pulmões, fígado e tireóide, de acordo com o Conselho Ministerial de Gestão de Recursos Naturais da Austrália. O seu uso é proibido tanto no Brasil quanto na União Europeia. A substância é avaliada como altamente perigosa pela Pesticide Action Network. O carbofurano é um agrotóxico classificado pela OMS como “altamente tóxico” se ingerido.
O agrotóxico Endrin, estudos com animais mostram que ele pode afetar o sistema nervoso, causando tremores e convulsões. O endrin faz parte da lista na lista de Poluentes Orgânicos Persistentes, que não se degradam facilmente e que se acumulam em tecidos dos organismos vivos. Além disso, eles se movimentam por longas distâncias e com facilidade pelo ar, água e solo, colocando em risco a saúde humana e o meio ambiente. O Brasil é signatário da Convenção de Estocolmo, que tem como compromisso eliminar todos os estoques e resíduos desses poluentes. O uso deste agrotóxico é proibido no Brasil e na União Europeia.
O agrotóxico Metamidofós a exposição ao metamidofós pode causar a diminuição da atividade da colinesterase cerebral, plasmática e eritrocitária, de acordo com o Conselho Ministerial de Gestão de Recursos Naturais da Austrália. Além disso, pode causar problemas neurológicos e hepáticos. O seu uso é proibido tanto no Brasil quanto na União Europeia. O metamidofós é classificado também pela OMS como altamente tóxico do ponto de vista agudo (efeitos logo após o contato). A substância é classificada como altamente perigosa pela Pesticide Action Network.
O agrotóxico Metolacloro, a exposição prolongada a ele pode causar diminuição do ganho de peso corporal, mudanças no peso do baço e do fígado, segundo o Conselho Ministerial de Gestão de Recursos Naturais da Austrália. O herbicida tem seu uso proibido tanto no Brasil quanto na União Europeia. Ele é classificado como uma substância de alta persistência, além de ser considerado muito perigoso para o meio ambiente.
O agrotóxico Parationa Metílica, este pode causar alterações no cérebro e degeneração neuronal, segundo o Conselho Ministerial de Gestão de Recursos Naturais da Austrália. O agrotóxico tem seu uso proibido no Brasil e na União Europeia. Ele é classificado pela OMS como extremamente tóxico do ponto de vista agudo (efeitos logo após o contato). A substância é classificada como altamente perigosa pela Pesticide Action Network.
A substâncias 1,1 Dicloroeteno também foi encontrada, o dicloroeteno é classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência de Registro de Doenças e Substâncias Tóxicas dos Estados Unidos. A ingestão de altos níveis da substância pode causar danos ao fígado, rins e pulmões. Também conhecido como cloreto de vinilideno, é um produto químico utilizado para fazer certos plásticos (como materiais de embalagem, filmes flexível) e revestimentos retardadores de chama para fibra e forro de carpetes. Embora o 1,1-dicloroeteno seja fabricado em grandes quantidades, a maior parte dele é usado para fazer outras substâncias ou produtos como o cloreto de polivinilideno.
E por último o levantamento apontou a presença de Tetracloreto de Carbono, substância classificada como possivelmente cancerígeno para humanos pela IARC. A exposição humana a altas concentrações da substância orgânica pode causar dano ao sistema nervoso central, fígado e rins. Esses efeitos ocorrem após ingestão ou inalação do composto. Os sinais e sintomas nas exposições inalatória e oral por curto prazo são: cefaléia, fraqueza, letargia, náusea, dor abdominal, dificuldade respiratória e vômito.
Nos casos graves pode ocorrer hemorragia, coma hepático e morte. O tetracloreto de carbono é utilizado principalmente na fabricação de gases para refrigeração e propelentes em aerossóis. Foi usado na fabricação de tintas, espumas, plásticos, aditivo para gasolina, desengraxante de peças metálicas, retardante de chama, na fumigação de grãos, entre outros usos, porém muitos desses usos foram descontinuados.
Quarto Centenário: detecções acima do limite de segurança apontam substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer, são os agrotóxicos Aldrin + Dieldrin (igual a Farol) e a substâncias inorgânicas Níquel.
Os compostos de níquel são classificados como cancerígeno para o ser humano e o níquel metálico como possivelmente cancerígeno para o ser humano (grupo 2B) pela IARC. O níquel é utilizado principalmente na fabricação de aço inoxidável e na produção de ligas, baterias alcalinas, moedas, pigmentos inorgânicos e de próteses clínicas e dentárias.
Sanepar
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) informou, por meio de nota, que não há registros de intervenção ou de notificação de órgãos de vigilância de saúde que indiquem omissão ou irregularidade por parte da empresa na qualidade da água fornecida pela empresa nos municípios atendidos.
“A Sanepar envia relatório dos resultados às Vigilâncias Sanitárias municipais, que recebem essas análises em primeira mão e alimentam o Sistema de Informação da Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde”, informa a nota. O Sisagua é o sistema no qual o Repórter Brasil teria obtido os dados para montar o Mapa da Água.
A empresa também informa que faz 7,5 milhões de análises por ano para verificar a conformidade de 109 parâmetros que estabelecem o padrão de qualidade de água segundo o Ministério da Saúde. O controle é feito, de acordo com cada parâmetro, a cada hora, diariamente, mensalmente e a cada semestre, seguindo o monitoramento do Ministério da Saúde e com aprovação das vigilâncias sanitárias dos municípios.
A companhia ainda negou que haja ocorrência de radioatividade na água das unidades de produção da Sanepar.