Quando analisamos algum acontecimento histórico, temos que faze-lo com cuidado. Não podemos cair na tentação do maniqueísmo, isto é, colocar os bons de um lado, e os malvados do outro. A complexidade da vida, dos acontecimentos, faz com que uma visão unilateral deturpe qualquer perspectiva de diagnóstico, por mais dolorida e insana que seja.
O que vemos hoje na grande mídia do Brasil é mais ou menos isso. De acordo com os grandes grupos de comunicação, que por sinal, tem interesses financeiros acima de qualquer compromisso com a verdade. O Brasil estaria dividido entre uma direita, que nega ser direita, que em sua maioria gosta de gritar que odeia política, mas que insiste com a ideia que um título na bolsa de valores vale mais que a vida de um cidadão qualquer. A não ser que esse cidadão represente lucro. Essa direita seria o ícone da moral e dos bons costumes, seria a representação do Brasil que dá certo, onde quem trabalha chega aonde quer, seria o Brasil que odeia corrupção, mas não vê crime em sonegação de impostos.
Do outro lado seria a esquerda retrógrada, a parte do Brasil que insiste na infeliz ideia de achar que o sol nasceu para todos. Uma esquerda que acredita que a política deveria ser para toda uma nação, e não apenas para quem nasceu em berço esplêndido.
Caio Prado Júnior em, “A Formação do Brasil Contemporâneo”, já diz sobre a falta de interesse que a elite tem numa ascensão em massa das classes menos abastadas. José Murilo de Carvalho faz análise semelhante em “Bestializados ou Bilontras”. Ou seja, o Brasil foi formado principalmente atendendo os interesses de uma elite que sempre vetou uma maior participação popular, uma elite que via os negros e os pobres não como parte da nação, mas como mão de obra barata, ou como algo que atrapalha a civilização.
Hoje as coisas não mudaram. É fácil percebermos uma justiça caolha, um poder judiciário que atende sim os interesses de uma oligarquia que não quer largar o osso. Mas como temos uma elite financeira que nunca foi intelectualizada, deram um tiro no pé, agiram da pior maneira possível.
Para quem queria afastar a possibilidade do ex-presidente Lula voltar ao poder, acabaram oxigenando uma possível candidatura. Uma candidatura de um homem que sabe se expressar, e que foi vitima de uma organização de caráter duvidoso. A direita brasileira pode ter ressuscitado um mito, um fazedor de votos. E o mais importante. Um homem cujo governo foi marcado pela ascensão de uma massa de miseráveis, que felizmente estão construindo sua própria história.
Mãe de aluno
7 de março de 2016 às 21:05
Depois dos últimos acontecimentos, agradeço por suas palavras Austin Andrade. Ando com medo de acordar em meu próprio país. Medo de viver novamente o terror da ditadura.