Motivados pela gravidade dos pacientes internados com exame positivo para COVID-19, os gestores do comitê COVID-19 em Campo Mourão, representados pelo Secretário Municipal de Saúde, Sérgio Henrique dos Santos, solicitaram ao Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN) os exames para a nova cepa, conhecida como Delta, identificada pela primeira vez na Índia.
Essa variante do vírus foi descoberta em outubro de 2020, mas somente em abril de 2021 que tomou proporção mundial, afetando inclusive, o Brasil. Com capacidade de transmissão de cerca de 40% maior e sintomas mais perigosos.
No início do mês foi confirmado o primeiro no Paraná, na cidade de Apucarana. Uma mulher de 71 anos testou positivo.
O que a ciência já sabe
Essa variante possui três versões, com pequenas diferenças: a B.1.617.1, a B.1.617.2 e a B.1.617.3.
Todas elas foram descobertas na Índia, entre outubro e dezembro de 2020.
A análise genética revelou que o trio apresenta mutações importantes nos genes que codificam a espícula, a proteína que fica na superfície do vírus e é responsável por se conectar aos receptores das células humanas e dar início à infecção.
Entre as alterações, três delas chamam mais a atenção dos especialistas: a L452R, a E484Q e a P681R.
Vale reparar que a mutação L452R já havia sido observada em duas variantes detectadas em Nova York e na Califórnia, nos Estados Unidos.
A E484Q tem algumas similaridades com a E484K, que foi uma alteração encontrada em outras três linhagens que ganharam bastante destaque nos últimos meses: a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul) e a P.1 (Brasil).
Já a mutação P681R parece ser exclusiva das versões flagradas na Índia e não se sabe muito bem o que ela pode significar na prática.
“Essas mutações virais estão surgindo em cidades em que há o relaxamento das medidas de proteção e onde se acreditava que a população já estava imunizada, seja pela infecção natural ou pela vacinação”, diz o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.
Em linhas gerais, tudo indica que esses “aprimoramentos” genéticos melhoram a capacidade de transmissão do vírus e permitem que ele consiga invadir nosso organismo com mais facilidade.
Antes, com as versões anteriores, era necessário ter contato com uma quantidade considerável de vírus para ficar doente.
Agora, com as novas variantes, essa carga viral necessária para desenvolver a Covid-19 é um pouco mais baixa, o que certamente representa um perigo.
“É como se o vírus criasse caminhos para escapar do sistema imune e desenvolvesse maneiras de transmissão mais eficazes”, completa Spilki, que também coordena a Rede Corona-Ômica, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
O que a ciência ainda não sabe
Por enquanto, ainda há muitas perguntas sem respostas sobre a B.1.617 e seu impacto no controle da pandemia.
Até o momento, os cientistas não conseguiram estabelecer a sua real velocidade de transmissão e o quanto as mudanças genéticas contidas nessa linhagem interferem na eficácia das vacinas já disponíveis.
Também não se sabe ao certo se a variante está relacionada a quadros de Covid-19 mais graves, que exigem internação e intubação.
Com base nas poucas informações disponíveis, o Grupo Independente de Aconselhamento Científico para Emergências (Indie-Sage), do Reino Unido, montou projeções para entender como a cepa pode influenciar a pandemia por lá.
Se a B.1.617 for de 30% a 40% mais transmissível que a B.1.1.7 (que é a variante dominante até o momento no Reino Unido), é possível que a região volte a viver uma situação tão grave quanto a que ocorreu nas ondas anteriores, com aumento considerável no número de hospitalizações.
Variante B.1.617 pode colocar em xeque os avanços no enfrentamento da pandemia conquistados em países como o Reino Unido, indicam especialistas
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Se ficar provado que essa variante consegue “escapar” da proteção da vacina, é provável que a situação seja ainda pior, estimam os especialistas.
Vale lembrar que o Reino Unido é um dos países com o melhor sistema de vigilância genômica do mundo: todas as semanas, eles fazem o sequenciamento genético de dezenas de milhares de amostras.
E os resultados recentes indicam um aumento considerável na presença da B.1.617 em terras britânicas: em uma semana, o número de casos provocados por essa nova variante quase triplicou.
Em 12 de maio, 1.331 amostras analisadas apresentaram a linhagem descoberta originalmente na Índia. Na semana anterior, eram 520.
Nos últimos 30 dias, a participação relativa dela no total de casos que foram sequenciados geneticamente subiu de 1% para 9%.
Em algumas regiões inglesas, como Bolton, Blackburn, Bedford e Sefton, a B.1.617 já representa a maioria dos casos analisados e já se tornou dominante.
Para conter o problema, o Indie-Sage montou um plano emergencial, que envolve seis ações prioritárias, como a aceleração da vacinação no Reino Unido e no mundo, o controle de fronteiras, o aperfeiçoamento dos sistemas de diagnóstico locais e a continuidade da vigilância epidêmica e genômica.
Fonte: g1.globo.com