A inflação percebida entre os mais pobres registrou em setembro a maior taxa do ano, impulsionada por alimentos mais caros durante a pandemia.
Como há sinais de continuidade de aumentos nos preços do setor alimentação até o fim do ano, a inflação dessa população pode terminar 2020 com alta acima da média nacional, alertou André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Ele fez a observação ao comentar a elevação de 0,89% no Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) de setembro, da FGV, que mede o impacto de preços entre famílias com ganhos mensais de até 2,5 salários mínimos.
A taxa foi a mais elevada desde dezembro de 2019 (0,93%), e se posicionou acima do Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-BR) do mês, que abrange famílias com ganhos até 33 salários mínimos e subiu 0,82% em setembro.
Braz comentou que o resultado em 12 meses do indicador também está se mantendo acima da média. Até setembro, o IPC-CI sobe 4,54%, enquanto o IPC-BR tem alta acumulada de 3,62%, no mesmo período. “Neste mês, a inflação dos mais pobres ficou acima da meta inflacionária”, acrescentou o técnico em relação ao objetivo do Banco Central, de uma inflação de 4% neste ano.
Na prática, foi a tendência de alimentos mais caros durante a pandemia desde março que levou ao cenário atual, notou o especialista. Ele lembrou que itens alimentícios representam 23,4% do IPC-C1 — sendo que, no IPC-Br, o peso dessa classe de despesa é de 19,3%. “Em 12 meses até setembro, a inflação do grupo Alimentação no IPC-C1 tem alta de 12,7%. É o patamar mais elevado desde agosto de 2016 (13,4%)”, notou ele.
Uma combinação do dólar alto e a forte desvalorização do Real levaram ao ambiente de alimentos mais caros, apontou o economista. Houve maior exportação de alimentos, tendo em vista o dólar mais atrativo, o que reduziu mais ainda a oferta desses itens; e commodities agropecuárias mais caras, o que elevou preço de alimentos derivados.
Em setembro no IPC-C1, das cinco principais elevações de preço no indicador, três eram de origem alimentar. O destaque ficou com arroz e feijão, cuja inflação saltou de 1,02% em agosto para 10,64% em setembro.
Para Braz, outro agravante é o fato de que as famílias mais pobres foram as mais afetadas pela piora do mercado de trabalho com a crise atual – que gerou desemprego e, por consequência, perda de renda. “Com menor renda, e alimentos mais caros, isso cria a sensação de inflação mais alta entre os mais pobres”, observou.
Com Valor Investe