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Cidadania Reflexiva (Parte II): Busca por informações e postura analítica

Checkmate2

Por Rogério Tonet*

Quem tem acompanhado esta coluna desde a primeira semana, tem verificado que a temática aqui tratada tem a intenção de contribuir para a formação de um cidadão que tenha a sua capacidade crítica aguçada e oferece uma metodologia para que todos possam tomar suas decisões e definir seu posicionamento político de forma consciente.

Hoje, continuando na mesma linha, o objetivo será de demonstrar uma maneira sistematizada de busca de informações, já que as fontes existentes NUNCA serão totalmente isentas (nem esta é!!!). A exemplo do que acontece nas ciências, na política ou no jornalismo, não é possível extrair a realidade pura de um evento e, assim, toda descrição jornalística é uma redução do evento total, uma descrição parcial, incompleta e, na maioria das vezes, serve a interesses dos grupos que as produzem.

Assim, na coluna desta semana trataremos de garantir que o cidadão que seguir as indicações tenha a oportunidade de FORMAR suas opiniões e, a partir destas, aumentar o conteúdo para defender suas opiniões conscientemente.

Apenas como um parênteses anedótico, recordo de um anúncio da revista Veja em fins da Década de 1980, ou do início dos anos 1990, onde o mote da campanha era “Assine veja e torne-se um formador de opinião”. Esta frase serve de exemplo para introduzir o tema da semana e, para tanto, vamos analisá-la perguntando: “O que a Veja quer dizer com esta frase?” e “Qual é a verdadeira mensagem que a revista está propondo?”.

Embora hoje um pouco ultrapassada, naquela época era mais forte a concepção que existem cidadãos-referência nos grupos sociais e que estes são disseminadores de ideias e opiniões, os tais “formadores de opinião”. Ainda que o conceito permaneça válido, ele perdeu força, especialmente devido ao aparecimento de novas mídias, tais como as redes sociais, cuja proposta é exatamente distribuir a “voz” para todos, ou seja, todos tornaram-se disseminadores de ideias.

Qual é o verdadeiro discurso por trás do slogan da Veja? Em primeiro lugar é que “Lendo/assinando Veja, você pode passar a disseminar estas ideias como se fossem suas”, ou (invertendo a frase e adicionando exclusividade) “Você somente será um formador de opinião lendo Veja”. Aprofundando mais esta análise, podemos chegar ainda que a frase da campanha pode trazer o entendimento que “a verdade está descrita na Veja” ou que “as opiniões válidas estão na Veja” e, tudo isso é apoiado por um time de colunistas/comentaristas de renome, um esforço de marketing para dar crédito a estes, etc.

Mas… nada garante que a Veja será imparcial ou que a realidade estará ali retratada (muito pelo contrário!!!!)…

Antes de falar sobre análise, deve-se tratar de uma postura que aumente a segurança sobre a veracidade dos fatos que você tomará como verdade, como segue.

I – Ceticismo

Para o cidadão reflexivo, nenhuma notícia que chegue às suas mãos, representa a realidade dos fatos, mesmo que esta seja compatível com suas tendências ideológicas. Todos os fatos terão que ser cuidadosamente checados em várias fontes e, somente depois, “formar a sua opinião”.

Como já dissemos, as fontes nunca serão reflexo perfeito da verdade mas, é possível, a partir de: a) várias fontes; e b) que apresentem diversidade de tendências; formar uma convicção do tipo “O que aconteceu é isso… os veículos tais dizem isso… em contrapartida os outros dizem isso… então…”. Essa formulação é típica de uma boa análise, o que se busca é um equilíbrio das ideias e o que segue o “então…” é a conclusão “posicionada” sobre os fatos.

II – Mapear a arena política considerando os meios de comunicação

Conforme já tratado aqui em coluna anterior, os meios de comunicação servem a interesses de grupos, sejam esses políticos, econômicos ou ideológicos e desconsiderar esse fato é ingenuidade inaceitável aos que pretendam engajar-se em movimentos políticos ou manter um debate sério sobre questões políticas.

Como saber qual “o lado” de um meio de comunicação? É relativamente fácil, mas vamos listar quais alguns pontos a serem observados:

a)      Frequência de notícias positivas em favor de um grupo específico e, em contrapartida, a frequência de notícias negativas contra o grupo oposto;

b)      Destaque ou espaço desproporcional destinado a cada uma das tendências em oposição;

c)       Distorção factual comprovada, quando em comparação com o divulgado por outros órgãos de imprensa;

d)      Articulação conhecida com outros meios ou grupos;

e)      Fontes de financiamento ou de isenções de impostos;

f)       Anunciantes com tendências ideológicas definidas;

g)      Comentaristas ou colunistas com tendências ideológicas definidas;

h)      “Propriedade” de políticos ou cargos de direção ocupados por políticos ou coligados.

III – Separar imagem (e recursos) do conteúdo

Uma condição importante para o analista é desconsiderar a imagem e os recursos aplicados na formatação do “produto-notícia” de seu conteúdo. Telejornais cuidadosamente estudados, com apresentadores bem maquiados não garantem fatos descritos de forma fidedigna, pelo contrário, um excessivo cuidado com a forma pode ser indício de conteúdo tendencioso.

O conteúdo está por trás da imagem, está por trás das frases de efeito ou dos eufemismos utilizados para “entregar” uma notícia com alguma distorção, assim como as “marcas” criadas para designar um ou outro grupo político ou acontecimento.

A linguística, com as metodologias de análise de discurso (e análise crítica de discurso) e análise de conteúdo, tem oferecido grandes contribuições para clarear os reais interesses por trás dos textos, das notícias e das declarações, mas esses temas serão apresentados em coluna posterior.

IV – Desconstruir políticos e partidos

Uma das formas de aprofundar a análise política, que deve ser parte da proposta do pragmatismo político apresentado, é a desconstrução (separação imagem x conteúdo) dos partidos políticos e de seus componentes. Retomando Robert Dahal, não existem políticos/partidos exclusivamente bons ou ruins, existem grupos políticos em constante concorrência pelo poder – e, aqui, não está se falando somente de eleições, mas, na política do dia a dia, nas votações do Congresso, nos julgamentos dos Tribunais, nas ações da Polícia e do Ministério Público.

Assim como foi proposto para a análise dos meios de comunicação, um check list será suficiente para uma análise inicial dos partidos e dos políticos.

a)      Declaração de princípios do Partido;

b)      Posicionamento em votações;

c)       Fontes de financiamento de campanha – todas as contas de campanha declaradas estão no sistema do STE, para acesso público no site: http://inter01.tse.jus.br/spceweb.consulta.receitasdespesas2014/abrirTelaReceitasCandidato.action

d)      Histórico de coligações e com quais partidos;

e)      Cargos ocupados e em quais governos;

f)       Histórico político anterior ou familiar;

g)      Grupos de interesse conhecidos aos quais está ligado (Ex: Bancada do Agronegócio, Sindicatos, Igrejas, etc.);

h)      Plano/propostas de governo (para cargos do executivo), material de campanha contendo propostas para o mandato (legislativo), histórico de decisões (judiciário);

Considerações

A coluna de hoje resultou em um texto mais prático e metodológico, em contraponto ao tom mais teórico das semanas anteriores e, na avaliação deste colunista, é bom que seja assim, já que o que aqui se propõe é uma forma pragmática de analise do campo político, algumas “receitas de bolo” em forma de listas de checagem são formas práticas de conduzir a analise.

De forma alguma esta coluna se divorciará da construção teórica do pragmatismo político e é pretensão que esta seja aprofundada semana a semana neste espaço.

Obrigado, voltem sempre.

Rogério Tonet* Rogério Tonet é professor e consultor. Administrador, Mestre (UFPR, 2004) e doutor em Administração (UFSC, 2014), especialista em Marketing e Recursos Humanos. Pesquisador nas áreas de movimentos sociais, democracia participativa e formas alternativas de ocupação e renda. Escreve para o Blog do Raoni todas as quartas-feiras.

4 Comentários

4 Comments

  1. Kauana

    11 de fevereiro de 2015 às 22:41

    Adorei o texto. Cada dia mais vejo esse espaço como um local diferenciado.

  2. Carlos Augusto

    11 de fevereiro de 2015 às 23:31

    Senhor Rogério, sei que foge um pouco do tema do texto, mas gostaria de saber sua opinião sobre a questão da regulamentação da mídia. Parabéns pela publicação e obrigado

  3. Rogério Tonet

    12 de fevereiro de 2015 às 6:10

    Olá Kauana… obrigado pela audiência!!!!
    Continue acessando… sempre tem um novo texto aqui no blog… com una visão diferente das coisas.

    Rogério

  4. Rogério Tonet

    12 de fevereiro de 2015 às 6:20

    Olá Carlos Augusto.

    Obrigado por acessar os textos.

    A questão da regulação da mídia não está fora do debate não… já iniciei a discussão aqui na coluna há duas semanas e pretendo retomar.

    A regulação é urgente!!! Hoje temos uma mídia controlada por grupos politicos (o que é ilegal) assim como existe um domínio de mercado de meia dúzia de veículos … ( tb existe legislação para restringir essa tendência a oligopólio).

    A aplicação das Leis existentes já seria suficiente, mas uma legislação especifica é ideal para deixar claros os.limites do poder dos grupos de comunicação.

    Rogério

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