Por Rogério Tonet
“A guerra é a continuação de política por outros meios” – Von Clausewitz
Retomando a ideia de uma análise pragmática da política na sociedade, hoje escolhi falar sobre estratégia. Em primeiro lugar, porque ouvi ontem de uma pessoa que o movimento marcado para o dia 15 de março – contra o governo Dilma – é algo “espontâneo” da sociedade – algo que discordo totalmente. Acrescento que o tema é parte dos meus estudos formais há mais de dez anos, ou vinte, se considerado o meu interesse e as leituras não sistemáticas. Por fim, e não menos importante, a necessidade de mostrar as várias formas de manipulação das massas, o timming e as etapas de estabelecimento de um conflito.
- Dividir para conquistar
Talvez uma das máximas mais difundidas nos meios da estratégia seja a acima citada e, ao mesmo tempo, representa a antítese de outra também muito popular: “A união faz a força”. Das duas frases pode-se resumir que um povo dividido é um povo fraco. Enquanto uma parcela luta para manter ou modificar sua condição, a outra metade convenceu-se que tudo está errado. Uma parte das pessoas vê algo de bom enquanto a outra parte, está derrotada. Os derrotados estão prontos para serem colonizados, de certa forma… eles esperam ansiosamente por isso!
Existem estratégias específicas para criar um clima favorável à manipulação de grandes contingentes populacionais e, algumas delas são de aplicação relativamente fácil. Por exemplo: o surgimento de um inimigo externo propiciará um ambiente favorável a união de todos e ao apelo ao nacionalismo. O caso clássico é o da Argentina durante o conflito das “Malvinas/Falklands” na Década de 1980.
Por outro lado, a criação de um inimigo interno cria distensões e a divisão do povo entre apoiadores e opositores. Esta situação descreve muito bem o momento pelo qual vive o Brasil, com a mídia escolhendo um inimigo interno que, conforme esta o descreve, vai contra os princípios da moralidade vigente no país (mesmo que estes não sejam os realmente praticados pela população) criando uma animosidade na população como um todo.
Nos próximos itens serão apresentados os mecanismos que podem produzir este “clima”, a propaganda e a guerra psicológica.
- Guerra psicológica: Diminuir o moral, implantar o medo e a insegurança
Durante a Segunda Guerra Mundial, tanto os aliados como os países do eixo, utilizavam-se de expedientes para reduzir o moral das tropas inimigas. Mensagens em alto-falantes ou em panfletos dizendo que eles – os inimigos – estavam perdendo a guerra, que a melhor opção seria desistir e entregar-se como prisioneiro de guerra. As mensagens diziam, também, apelando para o individualismo, com conteúdo como: “o mais importante da guerra é sair dela vivo, voltar para sua família”.
Assim, destruir o moral, implantar dúvidas, demolir o orgulho e o desejo de pertencimento à Nação e, por fim, render-se, são os principais objetivos da guerra psicológica. Não é por acaso que hoje vemos tantas pessoas – mentes fracas, é verdade – falando em sair do país.
Se antigamente a guerra psicológica se dava utilizando-se de panfletos, hoje, com a internet e a possibilidade de se contar com uma militância, mesmo que contratada e remunerada, cria-se uma rede de desinformação e de mentiras, levando às pessoas a perderem a referência para produzirem julgamentos válidos e, mesmo os mais cultos e inteligentes podem cair nesta armadilha, pois, elas são apresentadas de maneira completa, desejável, dispensando o raciocínio ou a pesquisa pelas fontes. É a produção de “verdades” parciais – ou mentiras totais – travestidas de notícias, para consumo imediato.
- Propaganda: Estabelecer uma agenda de generalidades “ad absurdum” desejáveis
“A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito NEM O PERCEBAM.”
Joseph Goebbels
Já escrevi, aqui, sobre o “discurso fácil”, mas hoje, pretendo aprofundar um pouco mais sobre esse conceito. O discurso fácil, como eu classifico, é um discurso de generalidades desejáveis. São conceitos complexos apresentados de forma supersimplificada, desconsiderando todas as implicações e pressões externas e, assim, sugerindo uma incompetência dos atuais governantes.
Pensar que resolver problemas como a saúde, educação, corrupção, etc. são tarefas simples, é de uma ingenuidade pueril. Promovendo um debate abstrato, a propaganda cria a massa de manobra perfeita, pois, sem conhecerem os verdadeiros objetivos dos produtores do discurso, passam a trabalhar como reprodutores e defensores de ideias genéricas como forma de ataque a um ou outro grupo, seletivamente.
Vale remarcar que todo discurso totalitário começa com generalizações desejáveis! Durante as passeatas de 2013 ouvi um manifestante dar a seguinte declaração a uma repórter: “Queremos educação, saúde, transporte, paz, amor, felicidade” (ou algo assim!!!) e outro que resumiu: “Queremos tudo o que é bom e ‘fora’ tudo o que é ruim”. É o discurso fácil, que dispensa a reflexão e é, ao mesmo tempo, um discurso uniformizador, totalitário (todos desejam “o que é bom”)… é porta de entrada para uma ditadura.
Apenas preste atenção à frase de Goebbels que inicia esse tópico: o propósito deve estar escondido, sem ser percebido por aqueles que são influenciados pela “ideia”. Você tem certeza sobre o verdadeiro propósito da campanha massiva contra a Petrobrás?
- Cortar linhas de abastecimento: Manipular o mercado, criar escassez
“Aquele que ocupar a parte mais alta [do terreno] e guardar a linha de abastecimento, terá vantagem” Sun Tzu
Uma das mais óbvias estratégias durante uma guerra é a de controlar as linhas de abastecimento para desestabilizar as tropas inimigas, assim como, fazer faltar comida, munições e armamentos através da destruição de pontes ou estradas que fazem parte do sistema logístico em uma guerra.
Há algumas semanas descrevi como pode-se produzir pânico e desabastecimento com a simples menção da possibilidade de falta de combustível com a paralização dos caminhoneiros – método, o qual, tem sido amplamente utilizado para criar desabastecimento, tal como vimos na Argentina em 2012, no Chile em 1973 – que foi o estopim para o golpe de Pinochet sobre Allende – além de ter sido utilizado na Venezuela em várias ocasiões.
A escassez gera um rápido aumento nos preços e insatisfação generalizada que será, ardilosamente direcionada pelos meios de comunicação para o grupo político ao qual se pretende denegrir.
- Oferecer uma saída incompleta
Por fim, vencidas todas as etapas, será necessário apresentar uma saída para a “crise”, os estrategistas cuidarão de apresentar estas saídas em formas de projetos, partidos, Leis e personifica-las em torno de um grupo que pretensamente resolverá o problema visível e operacionalizará o “propósito escondido” da citação de Goebbels.
A personificação, ou seja, a apresentação de uma pessoa, ou grupo/partido, perfeitos para liderarem a solução do impasse. As características deste líder, segundo descreve Maquiavel: “um amante das virtudes, dando oportunidade para homens virtuosos e honrados […] animando seus cidadãos a exercer a agricultura e o comércio de forma que o agricultor não tema que suas terras sejam tomadas ou que o comerciante não deixe seu comércio por medo das taxas”.
O líder que será apresentado será um virtuoso e, conforme descrito, restaurará a confiança e afastará o medo da sociedade. Sua tarefa não será muito complicada, já que o medo e as ameaças foram criadas anteriormente pelo mesmo grupo que o apoia.
Conclusão?
Não, obrigado…
Leandro
12 de março de 2015 às 9:42
Venho acompanhado a série e este texto foi o melhor de todos em minha opinião. Acho ótimo ver que tem gente que pensa em Campo Mourão.
Obrigado.
Rogério Tonet
12 de março de 2015 às 11:24
Obrigado Leandro!
Muito obrigado pela avaliação positiva… Continue acompanhando esta e as outras colunas do blog… A gente pensa e que fazer pensar!!!
Esse é o bom debate… Vamos debater e conversar sobre a sociedade… Tentar descobrir aquilo que o noticiário não que deixar a gente saber!!! :)
Boa sorte!!
Rogério S. Tonet
Amanda
12 de março de 2015 às 15:14
Mais uma vez um ótimo texto. O momento em q vivemos é muito difícil para discutir politicamente justamente porque os meios de comunicação de massa estão idiotizando a população que acaba não procurando outras fontes alternativas de informação. Por isso parabenizo vocês por este espaço e venho acompanhando.
Rogério Tonet
12 de março de 2015 às 21:23
Obrigado Amanda!
Esta série é fruto de uma ideia antiga… de fazer uma “cartilha” de formação política… espero que eu esteja acertando nos temas escolhidos.
Os textos, Amanda, também são um convite a pensar e a discutir política de forma responsável… fugindo do discurso raso, fácil.
Continue lendo e proponha discussões!!!
Rogério
Amanda
13 de março de 2015 às 8:59
Interessante Rogério. Já que me deu a liberdade, acho que seria interessante debater profundamente a regulação da mídia no Brasil. Estarei acompanhando e obrigada.
Paulo Braga
13 de março de 2015 às 11:49
Eu achei o texto bom e percebi que é uma série. Ainda não li todos os textos mas quero parabizar pela reflexão.
O interessante é perceber o quanto a sociedade é moldada pelos interesses de pequenos grupos. Lutar contra isso é fundamental.
Amplexos
Rogério Tonet
13 de março de 2015 às 13:44
Olá Amanda.
Sim, pretendo falar sobre isso sim… Na verdade já comecei a escrever, mas, surgiram esses fatos que exigiram resposta urgente.
Outro tema que pretendo abordar é a reforma política.
Obrigado
Rogério
Rogério Tonet
13 de março de 2015 às 13:48
Caro Paulo Braga.
Obrigado! E… Sim, é uma série. Se quiser ler PS textos anteriores pode acessá-los no meu blog: http://anacronismocronico.blogspot.com.br/
Mantenho um outro blog, com músicas e filmes críticos.. Dê uma olhada:
http://arteecriticasocial.blogspot.com.br
Espero que goste!!
Rogério