Por Austin Andrade*
Ao longo da História, podemos perceber que as mentalidades vão se adaptando ao seu próprio período. Hora moldada de acordo como as relações sociais vão se constituindo, ora moldada de acordo com interesses de uma classe dominante, que em geral não quer perder o protagonismo.
No Brasil isso se torna claro quando olhamos para trás e vemos o modelo de sociedade adotado. Um modelo eurocêntrico, em que tinha a Europa como símbolo e modelo de desenvolvimento. Pautado sempre na busca pelo lucro e fortalecimento das instituições financeiras.
Mas o que isso tem a ver com a Grécia? Ao mesmo tempo muito, e ao mesmo tempo nada. Mas considerando que a Grécia, como o Brasil, teve seu desenvolvimento contemporâneo pautado a partir de perspectivas sócio- econômicas. Relegando o bem estar da população a um segundo, ou até mesmo a um terceiro plano. Percebendo que na Grécia assim como no Brasil, procuraram afastar as massas das decisões políticas.
Foi criado o imaginário que o povo não teria condições de ser protagonista de sua própria história (como aqui). Que apenas alguns poucos eleitos poderiam se beneficiar de uma benesse de comando, onde o importante era o lucro fácil e o poder. Custe o que custar.
Sabemos bem onde isso foi parar, a crise europeia foi amplamente debatida pela imprensa. E eis que a população de um dos países mais atingidos resolveu virar a mesa. Resolveu dar um basta e dizer que finalmente se cansaram de ter que pagar pelos erros absurdos de alguns dirigentes do passado.
A Grécia elegeu para comandar o país uma coalizão de extrema esquerda, ou chamada por eles de esquerda radical. O que isso poderá influenciar no dia a dia daquela população? Bem, num primeiro momento podemos esperar a recuperação da dignidade do Grego, que finalmente suas necessidades sejam ouvidas, que os serviços públicos sejam resgatados, que se faça um investimento na população e não apenas em pagar dívidas. Que aja uma renegociação, pois mais importante que o lucro, mais importante que o aspecto econômico, é o ser humano na sua totalidade.
Os gregos deram um grito de basta, um grito de socorro, um grito que querem ser importantes. Um grito para avisar que suas necessidades valem mais que um punhado de euros. Os banqueiros? Ahhh….esses esperam mais um pouco. Fome eles não vão passar. Sempre vai aparecer uma carniça para eles se fartarem.
*Austin Andrade é Historiador graduado pela Universidade Estadual do Paraná – Unespar, Interprete criador e professor de dança clássica e contemporânea. Escreve todas as segundas-feiras para o Blog do Raoni.