Por Austin Andrade
Alguns acontecimentos me influenciaram sobre a decisão de escrever sobre o militarismo. Especialmente o militarismo praticado no Brasil no século XXI. Entre as conversas que tive com alguns amigos, uma em especial me chamou a atenção, a de um policial militar que atua na cidade de Campo Mourão.
Por motivos óbvios não mencionarei os nomes, mas o relato de três militares dizendo que a polícia militar tinha que ser extinta me chamou muito atenção. Vejam bem, o que foi defendido pelos policiais não é simplesmente “acabar” com a corporação, mas sim… reinventa-la, aprimora-la, isso baseado no fato que os policiais são humanos dotados de inteligência e necessidades, como reivindicar melhores condições de trabalhos, reivindicar melhorias salariais, organizar-se em sindicatos. Direitos básicos a todos os trabalhadores, mas que são negados aos militares.
Nas próximas colunas irei debater um pouco sobre isso. Sobretudo por entender que estamos num mundo em completa transformação, onde valores são constantemente revistos, onde entidades ganham novas funções, ou tem seus serviços aprimorados, atendendo assim melhor a comunidade, na qual deveria servir.
Para começar, podemos citar que as regras militares implantadas no Brasil, são quase todas importadas da França. Algumas dessas regras são tão antigas que remontam ao pré – Cristianismo.
Uma das críticas contemporâneas ao militarismo é principalmente a anulação do ser pensante, a ponto do governador do Paraná, Beto Richa, ter falado em entrevista (disponível no yotube) que não caberia o policial militar ter ensino superior, pois quem estuda tende a questionar regras, tende a ser “subversivo”. Foucault usa o termo “corpos dóceis”, ou seja, para ele “o exercício sistemático de movimentos medidos e coletivos, de modo a tornar o ser pensante coisa a ser usada e descartada sem reação”.
O agir sem pensar, a ordem sendo cumprida a todo custo, a falta de diálogo, a falta de compreensão social, filosófica e histórica. O fazer. Felizmente tais coisas estão sendo questionadas dentro da própria corporação. Exemplo claro disso foi a recusa dos policiais em “reprimir” com violência os ressentes protestos dos professores do Paraná. Inclusive são vários os relatos de professores que dizem terem sido parabenizados por policiais, se dizendo solidários com a causa.
Foucaut lembra que a condição militar tira a possibilidade do ser humano (soldado) refletir, questionar e agir modificando a realidade em sua volta. O contexto em que o soldado se encontra centra-se na negação do direito de ser e de pensar, com isso o sistema produz apenas máquinas obedientes, fantasmas em vida. Seus corpos são transformados em máquinas de trabalhos, cuja punição sempre se deu de maneira exemplar sobre os que não se ajustam a produção exigida. Causando assim o surgimento de indivíduos robotizados.
Esse sistema é altamente benéfico para alguns grupos, que tem em suas mãos uma legião de pessoas prontas (nem sempre dispostas) a cometer atos que nem sempre seriam praticados se os mesmos tivessem poder sobre seus atos.
Hoje resolvi fazer apenas uma contextualização do tema que quero discutir nas próximas semanas. Como disse no inicio, o mundo como um organismo vivo, está em constante transformação, e com isso mudam-se também os conceitos e ideias sobre a contemporaneidade. A discussão sobre o militarismo tem ganhado força, sobretudo entre os intelectuais que pensam o ser humano. E nós não vamos nos furtar desse assunto.