Normalmente conhecemos o viés de um governo pela maneira que o mesmo se relaciona com o povo. O governo Beto Richa já demonstrou por diversas vezes que não é afeito ao dialogo, seu modo de conduzir tem sido pautado por políticas “positivistas”, com o poder sendo exercido com mão repressora, forte. Vide o que aconteceu dia 29 de abril, e que inacreditavelmente é naturalizada por quem segue essa linha de pensamento.
Com base nessa política, parece que alguns deputados estão levando a ferro e fogo à tentativa de ganharem uma legião de gados (pessoas), que passivamente poderiam ser úteis para a manutenção desse grupo no poder. Entre essas tentativas, estamos vendo a infeliz ideia de um deputado da base aliada querendo a volta de uma disciplina chamada OSPB.
A Organização Social da Política Brasileira, ou OSPB, foi implantada pela lei 869/68, tendo se tornado obrigatório na grade curricular a partir de 1969 juntamente com Educação Moral e Cívica. Essas disciplinas foram adotadas pela ditadura militar para substituir as matérias de Filosofia e Sociologia. Tinha por objetivo pura e unicamente a transmissão de ideologia do regime autoritário que estava em vigor naquele período.
Essas disciplinas exaltavam o nacionalismo e civismo dos alunos. As aulas eram sempre pautadas em informações factuais. Eram ignoradas as reflexões e analises da conjuntura sócio/econômica do período. Esse ensino chamado “tecnicista” (não confundir com ensino técnico) tirava do aluno o protagonismo da sua própria história, ele era levado a acreditar que sua única missão na vida seria de trabalhar para servir a algo maior (Estado). Grosso modo falando, era como doutrinar uma multidão de robôs que obedeceriam cegamente um comando maior, ocorrendo aquilo que Michel Foucault chama de “corpos frágeis”, ou seja, corpos construídos para atender interesses de um grupo que insiste em ter o protagonismo econômico e social do país.
As primeiras conversas para implantação de uma disciplina que atendesse unicamente os interesses do Estado teve inicio em 1939 no governo de Getúlio Vargas. Naquele período o Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, já defendia o “…aperfeiçoamento físico de par com a subordinação moral e com o culto ao civismo…”.
Dentro desse projeto da ditadura militar de desprover a população de um conhecimento crítico, analítico e reflexivo, foi suprimido da grade escolar pelo parecer 853/71 o ensino de História. Com isso as portas estavam abertas para o direcionamento da memória nacional. As identidades sendo construídas de acordo com interesses de quem governava o país. O conceito “classes” foi riscado, problemas nacionais abafados, a naturalização da pobreza, racismo e agressão contra minorias se tornaram comuns.
Esse tipo de doutrinação fez um estrago tão grande no Brasil, que até hoje, 30 anos após a redemocratização, o sistema de ensino ainda não se recuperou, o que pode ser percebida através do pensamento fascista que ainda impera em boa parte da classe média, que tem se mostrada reacionária e conservadora a ponto de alguns (ainda bem que poucos) defenderem a volta do regime militar. Fato que fez até mesmo um dos caciques do PSDB ter comentado sobre essa doutrina autoritária na Folha de São Paulo da semana passada.
O caráter negativo dessa disciplina fez com que ela fosse riscada do mapa de forma oficial em 1996 através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação justamente por ter “… caráter negativo de doutrinação.”.
Bem que o deputado Marcio Nunes (autor do projeto para volta da OSPB), que por sinal tem se notabilizado por atender somente os interesses do governo do estado, podia dormir sem essa.