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Coluna do Austin Andrade

Coluna do Austin Andrade: Sobre os pioneiros, os indígenas Kaigang

Na coluna dessa semana o espaço será da minha querida amiga, a professora Nair Sutil. Compactuo com o mesmo pensamento dela. Já passou da hora de pessoas ditas civilizadas desproverem do preconceito que regem suas vidas. Para quem é cristão, acreditem, eles também são filhos de Deus. As dores que eles sentem são as mesmas dores que sentimos. Eles têm o mesmo direito à dignidade que nós temos. Não menos importante, eles tem o direito de viver a vida de acordo com seus interesses e tradições, assim como nós também fazemos.

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SOBRE OS PIONEIROS, OS INDÍGENAS KAINGANG

Começo esse texto pedindo mais humanidade e menos preconceito, menos julgamento e mais solidariedade em favor daqueles que a história deixou à margem e tenta retirar-lhes a importância. De quem falo? Falo dos indígenas que habitam Campo Mourão, daqueles que tem tanto direito de circular e vender seus artesanatos como qualquer outro nascido ou chegado nesta cidade. Falo dos pioneiros kaingang que habitam esta terra desde tempos imemoriais. Pioneiros antes de qualquer outro aqui chegar. Pioneiros antes de qualquer ‘descoberta’, tratado ou acordo de demarcação. Quer queiramos ou não eles também são cidadãos amparados pela Constituição. Ah, ela nos negligencia? A eles também e, muito mais. Eram milhares e viviam dignamente conforme seus costumes. Foram dizimados em nome do progresso e da civilização. Hoje vivem acuados em áreas sem infra-estrutura, as chamadas Reservas Indígenas e de onde, me parece, não podem sair para não ‘sujar’ ou ‘poluir’ nossos olhos e nossas vidas tão ‘civilizadas’ e ‘cristianizadas’! Não pude acreditar quando li a matéria publicada no jornal Itribuna, onde pessoas sugerem que a prefeitura deveria CERCAR a área. Se a prefeitura aceitar a bizarra sugestão, não devíamos então devolver a eles as MATAS e as FLORESTAS para que possam viver da CAÇA e da PESCA??? Ah sim, e nessas MATAS que serão devolvidas a eles, finalmente poderão defecar em qualquer lugar sem constranger ninguém. O preconceito os quer longe, ou melhor, o preconceito nega-lhes a existência. Sou moradora muito próxima das casas deles (sim eles tem casas, as barracas são as suas moradias) e nunca os vi “defecarem à vista de todos, no meio da grama” e se visse não me, sentiria constrangida como me senti ao ler o comentário que justifica enorme preconceito do denunciante. Claro que há problemas sim em defecar a céu aberto, mas de saúde. Alguém já solicitou ao poder público banheiros químicos para eles? Ou o nosso pudor é maior que as necessidades deles? Alguém já viu que eles não tem água disponível? Para isso não precisamos da FUNAI, água e banheiros químicos o poder público pode providenciar sem maiores protocolos e memorandos. É um gesto de humanidade. Outra reclamação que a matéria reproduz é quanto ao barulho. Nunca deixei de dormir uma noite sequer com o ‘barulho’ provocado por eles, porque simplesmente eles não fazem barulho. Aliás, já tive meu sossego perturbado por som altíssimo produzido pelos ‘civilizados’.

É legítimo reclamar, reivindicar e protestar, como diz o título da matéria, mas tenhamos bom senso ou admitamos o preconceito, acho até que fica mais bonito admitir uma fraqueza humana, do que dizer improcedências. Também não me parece que os surtos de dengue em Campo Mourão coincidem com a presença deles por aqui, conforme outra reclamação.

Minha preocupação com eles era e é a proximidade com rodovia. Eles tem filhos, bebês de colo e crianças pequenas. Mas graças a Deus me tranqüilizei ao perceber que são ótimos pais. Cuidados com as crianças é coisa séria para eles. Me preocupo com as chuvas fortes e temporais. Suas casas são frágeis. Dentro delas moram seres humanos que partilham do nosso mesmo estatuto e são também filhos de Deus.

Não esperemos as grandes tragédias para termos o nosso coração sensibilizado. Não esperemos mais imagens como a de Aylan Kurdi, menino sírio encontrado morto em praia da Turquia para pensarmos no nosso semelhante. Temos visto nos noticiários o drama de milhares de pessoas que migram em busca de uma vida melhor. Nossos pioneiros kaingangs também querem isso, por isso saem de suas aldeias. Nós todos queremos dias melhores. Humanizar o coração e sensibilizar o olhar para os dramas a nossa volta.

Nair Sutil

 

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