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Coluna do Emílio Gonzalez: As Lutas pela Educação – A Cumplicidade Geracional

Cavalos de Álvaro Dias e bombas de Beto Richa

Cavalos de Álvaro Dias e bombas de Beto Richa

Por Emílio Gonzalez*

Algumas comparações são inevitáveis. 28 anos depois do governador Álvaro Dias ter jogado a cavalaria da polícia militar para abafar e massacrar um legítimo protesto de professores que lutavam por melhorias na educação pública (1988), Beto Richa decidiu repetir o feito, celebrizando-se na memória das lutas sociais paranaenses ao lado de Álvaro Dias como o governador  decidiu tratar professores , simples trabalhadores e pais de família, como bandidos e marginais. Mais: sem a mínima humildade ou sensibilidade para reconhecer o excesso das ações policiais, a desproporção de forças ali constituídas e os justos motivos que levaram milhares de professores à capital Curitiba, Richa ainda tentou legitimar e justificar a surra chamando professores de baderneiros, e dizendo (sabe-se lá com base no que!) que o protesto atentava contra o Estado de direitos. Nessa ótica, o desrespeito à democracia e suas garantias legais vinha da parte dos professores, e não do governador que deu um calote nos seus servidores, quebrou o Estado, não explicou o sumiço do dinheiro da Educação, e ainda tentou aprovar, na marra, um pacote de medidas autoritário, em que pese os clamores das ruas dizendo “NÃO!”.

A democracia e suas instituições não pode ser um joguete à serviço de uma elite. Ela deve expressar a vontade do povo, das ruas. E as ruas eram muito claras naquilo que estavam pedindo. O desrespeito à democracia não vinha da parte dos professores, trabalhadores e servidores públicos, mas daqueles que, ignorando estes clamores, preferiram trabalhar às cegas, movido por interesses pessoais e políticos, e pelo loteamento partidário típico de nosso sistema legislativo.

Reeleito em primeiro turno em 2014, Beto Richaparece ter se esquecido a forma como funciona a democracia. Seu mandato é um voto de confiança para que Richasiga administrando aquele que é considerado um dos Estados mais ricos da federação. A democracia permite ao governador discutir um projeto de Estado e sociedade, mas não lhe autoriza jamais impor autoritariamente aquilo que bem entender.A democracia é uma construção paciente e hábil entre as partes contraditórias e conflitivas, incluindo aí as instituições, os movimentos sociais e a sociedade civil. A imposição pura e simples da vontade do mandatário tem outro nome: absolutismo. É provável que num sistema legislativo como o nosso, dominado por algumas famílias que se reelegem sucessivamente, constituindo verdadeiras dinastias a se perpetuar no poder, Richa esteja mesmo certo de que não precisa governar o Estado de forma democrática, e sim na forma do Absolutismo. Afinal, sendo ele próprio descendente de uma destas dinastias, quem poderia lhe dizer o contrário?

Não é segredo para ninguém que na história do Brasil, todas as principais conquistas e direitos que gozamos hoje só foram obtidas mediante dura luta entre os movimentos sociais mobilizados nas ruas, contra as oligarquias que sempre se apropriaram do Estado para seus interesses pessoais e de classe. O momento não é diferente: a luta pela Educação, expressa no movimento dos professores, é uma luta para preservar essas conquistas obtidas com sangue e suor no passado; mas também, para ampliá-las para as gerações futuras.

Os liberais gostam de dizer que “não existe almoço grátis” – no sentido de que nada vem da benevolência alheia, e sim do próprio esforço pessoal. Apropriando-se desta frase, eu diria, numa perspectiva das lutas sociais, que não existe direito social grátis, pois todos eles vieram graças ao sacrifício de estudantes e trabalhadores da Educação que não se omitiram e enfrentaram a truculência estatal, a polícia, os cães e o gás lacrimogêneo em épocas passadas – inclusive aqueles professores pisoteados e bombardeados pela polícia de Álvaro Dias, naquele memorável 30 de agosto de 1988.

As lutas na Educação não são apenas lutas por interesses imediatos, como salários e condições de trabalho. São também compromissos geracionais, cumplicidade entre os estudantes e trabalhadores de hoje, que se alimentam do esforço de estudantes e trabalhadores do passado, e pavimentam o terreno para garantir minimamente o futuro dos estudantes e trabalhadores que ainda virão.

Essa é a verdadeira delícia da História. Ela nos permite lembrar de onde viemos, e também, até onde podemos chegar.

**Emílio Gonzalez é historiador e professor da UTFPR de Campo Mourão. Também é colunista do jornal Correio do Cidadão. Escreve todas as quintas-feiras para o Blog do Raoni.

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