Esta coluna tem tratado predominantemente de questões políticas nacionais, mas, durante algumas semanas passaremos a tratar de questões da geopolítica e da economia internacional, como forma de criar uma base sólida para futuras analises de movimentos e/ou estratégias de países e de empresas transnacionais (algumas das quais, com faturamento maior do que o PIB de muitos países).
Quando escutamos no noticiário que existem agências americanas de espionagem atuando no Brasil, na Alemanha ou na Argentina ou quando alguém fala que existem interesses de empresas globais de petróleo em uma eventual quebra ou privatização da Petrobrás, estão se falando das mesmas coisas. Segundo Noam Chomsky, nos países “desenvolvidos” existe uma articulação entre Industria/empresas e Estado para estabelecer vantagens comerciais visando fortalecer as posições das corporações em outros países ao mesmo tempo em que geram um protecionismo a seus mercados locais. O teórico anarquista francês Daniel Guérin deu o nome a este tipo de articulação de “Complexo Industrial Militar” e, por isso, é possível pensar que empresas estadounideneses podem, por exemplo, na teoria ter acesso a escutas telefônicas feitas pelas agencias de inteligência governamentais.
Esse contexto internacional que envolve países, empresas e estratégias de dominação será o tema que se inicia hoje e que deve ser a tônica das próximas semanas, especialmente, para que os leitores possam observar que é uma ingenuidade pensar que a questão da Petrobras e a crise política instaurada no Brasil seja algo que surgiu naturalmente ou que seja um problema exclusivamente interno. Existem SIM interesses internacionais nesta questão e o tipo de articulação citada no parágrafo anterior conta com os recursos e o know how para manipular a opinião pública, causar distúrbios e manifestações, desvalorizar empresas e, em casos extremados, depor governos.
Alguns dirão que são teorias conspiratórias, mas, existe uma farta documentação que ISSO JÁ ACONTECEU ANTES e que estas articulações estão em andamento em outros países.
Constatação prévia I: O mundo vive uma “Economia Financeira” e não uma “Economia Real”
Embora muitos críticos às políticas econômicas atuais gritem aos quatro ventos que o aumento do PIB brasileiro, que levou o país do 15.a em 2002 para, atualmente, tornar-se a 7.a economia do mundo, é baseado no endividamento da população, afirmo que esta afirmação só comprova que o Brasil tem se alinhado ao modelo de desenvolvimento vigente nos países do norte. O americano médio e, em menor monta, o europeu médio, tem dívidas enormes, que ultrapassam em muitas vezes o total de seu ganho anual e, o crédito é o motor para o consumo, que por sua vez, movimenta a economia.
Esta economia financeira é o que movimenta o mundo e, para espanto de muitos, é uma ficção e os indícios disso são vários: i) desde 1971 os EUA abandonaram o lastreamento em ouro do Dólar, apesar desta continuar sendo a principal moeda para transações internacionais; ii) As transações em bolsas do mundo ultrapassam em muito o valor total em circulação; iii) a BMF, no Brasil, por exemplo, deixou de exigir o produto físico (soja, boi, milho, etc) para os contratos futuros desde 2009; iv) a Bolsa de Chicago negocia cerca de 7 vezes mais soja do que o total produzido no mundo; v) Fortunas como a de Eike Batista e empresas como a Enron são construídas e viram pó de um dia para o outro, pois seus balanços (que guiam os investidores) são uma promessa de desempenho; e, para finalizar, vi) Bancos são autorizados pelas entidades reguladoras a emprestarem volumes cerca de 10 vezes maiores do que suas reservas efetivas (Fractional Reserve Banking).
Constatação prévia II: Vivemos em um mundo de “Instituições”
Ao mesmo tempo, o sistema criado desde a modernidade da Revolução Francesa baseou-se em uma série de substituições “institucionais”. A Igreja Católica perdeu força e deixou de ser o guia moral da vida associada e a referência de poder, assim como os Reis e os exércitos reais deixaram seu poder absoluto. A unificação das Nações europeias (Séculos XVIII e XIX), sua conversão em Repúblicas e a criação da “Democracia Representativa” levou à criação de novas instituições.
No bojo destas mudanças estruturais, abriu-se espaços para a criação de instituições resultantes de associações de várias instituições, assim como, instituições independentes do Estado. Hoje, como disse Amitai Etizioni: “Vivemos em um mundo de Organizações” e, tenho que convicção que o sociólogo concordaria comigo se eu substituísse “organizações” por “instituições”.
Atualmente algumas instituições alcançaram tamanha influência que conseguem regular mercados e, até, impedir a atuação ou proteger mercados. São exemplos de instituições com esse poderio: ONU, ISO, OMC, FMI, Banco Mundial… e até Greenpeace, WWF, agências de risco, Bolsa de Nova York, etc.
Pergunta: Você sabe quem são as pessoas que gerenciam estas instituições? Você pode se candidatar ou votar nessas pessoas?
O que é e quem são as “Agências de Risco”?
Uma parte da regulação econômica global consiste em indicar aos investidores quais as empresas ou países onde é mais seguro ou mais arriscado investir e qual é o retorno que se deve esperar de cada investimento. Estas informações são dadas por “Agências de Classificação de Risco” que são INSTITUIÇÕES PRIVADAS que, teoricamente, estudam a “saúde financeira” destas empresas e países. Estas avaliações vão balizar o retorno dos investimentos e, portanto, ditará o custo de captação de recursos no mercado… em última instância decidem a TAXA de JUROS dos empréstimos internacionais.
As três grandes agências de classificação de risco são: Standart & Poor’s, Fitch e Moody’s e são a referência neste mercado pois atuam desde fins do Séc. XIX.
O que é “Risco País”?
Relacionado ao item anterior, o risco soberano ou risco país é a diferença entre a taxa de juros necessária para um país atrair recursos e a menor taxa de juros paga pelo mercado. Na prática é a diferença entre a taxa de juros paga pelos EUA e a taxa paga pelo país em estudo. A fórmula geral foi criada pelo banco estadunidense JP Morgan e uma diferença de 1% entre as taxas em questão representará 100 pontos de risco.
O Brasil, durante a Década de 1990 chegou a pagar taxas de juros de cerca de 45% ao ano (Março de 1999) e em setembro de 2002 o “Risco Brasil” chegou a 2.446 pontos. Atualmente a taxa básica de juros (Selic) é de 12,25% a.a. e o Risco Brasil está por volta dos 250~300 pontos.
Por que o Dólar é a moeda de referência? E qual a força do Euro?
O dólar também comporta-se como uma instituição. As pessoas, no mundo todo, acreditam que o Dólar é uma reserva de valor mais segura que as outras moedas. Esta avaliação comum foi construída ao longo do Séc. XX quando os EUA tornaram-se a maior economia do mundo e, no pós-guerra, passou a liderar a política internacional, até então dividida com Inglaterra e França, principalmente.
Quem comanda o FMI, Banco Mundial e OMC?
O Sistema Financeiro Internacional em vigência até hoje foi criado no período final da Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra, na série de reuniões conhecidas como negociações de Bretton Woods ou “Conferências de Bretton Woods” como preparação para a reconstrução dos países após o fim da guerra, assim como estabeleceu uma nova ordem econômica.
Entre outras mudanças, os EUA passaram a ser a principal referência industrial e econômica e, assim, o Dólar passou a ser a moeda de equivalência internacional. Foram criadas instituições entre os países aliados para a reconstrução da Europa e do Japão, conhecido como “Plano Marshall” e entre estas estão a própria ONU, o FMI e o Banco Mundial. A OMC foi criada posteriormente (1995) como forma de regular o comércio internacional.
Quem comanda? A pergunta correta seria, quem criou? Quem saiu vencedor da Segunda Guerra Mundial…
Por que os BRICS estão ameaçando mudar a geopolítica e as relações econômicas globais?
Os BRICS, grupo formado pelas “economias emergentes” Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul, tem se organizado para mudar esse regramento da Geopolítica internacional, por dois caminhos, primeiramente através do aumento da influência econômica, já que a China é o segundo maior PIB do mundo (Us$ 10 trilhões); Brasil é o 7.o (Us$ 2,2 trilhões); Rússia o 9.o (Us$ 2,1 trilhões); Índia é o 10.o (Us$ 1,99 trilhões); e a Africa do Sul, a 21.a economia com Us$ 354 bilhões. Juntos, somam mais de Us$ 17 trilhões, ou cerca 25% de toda riqueza do planeta, ou seja, o equivalente a União Europeia em seu conjunto ou EUA tomado isoladamente.
Ao mesmo tempo, os BRICS estão organizando suas próprias instituições, sendo que a principal delas é um Banco de Desenvolvimento que conta com capital subscrito pelos países associados de Us$ 100 bilhões.
Concluindo…
O que são instituições? São organizações ou elementos (físicos ou intangíveis) da sociedade que são reconhecidos por todos como relevantes ou positivos em determinado segmento. São, portanto, elementos políticos avaliados segundo a opinião pública.
Como já vimos aqui, a opinião pública está sempre aberta a manipulação, em especial, quando exposta a um sistema de informação, jornalismo e mídia controlada por grupos econômicos gigantescos.