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Coluna do Rogério Tonet

Coluna do Rogério Tonet – Cidadania Reflexiva VII: Vamos falar de economia?

Vamos falar de economiaNota: este texto não é uma defesa do capitalismo, mas, uma explicação sobre como funciona ou como deveria funcionar.

Retomando a série, cuja temática é a espinha dorsal desta coluna, o assunto de hoje será sobre a economia, alguns conceitos rudimentares, o funcionamento da economia na sociedade para, finalmente, analisar a condução das políticas econômicas nos últimos 12 anos para comparar o estado atual das coisas em relação à fórmula anterior de desenvolvimento.

Em primeiro lugar, é preciso desmistificar algumas ideias que tornaram-se, aparentemente, naturais no discurso político, econômico e, porque não dizer, que repercute nas mesas de bar e nas rodas de “pseudo-intelectuais-formadores-de-opinião” que digerem e arrotam sem mastigar a coluna diária dos comentaristas econômicos da tv.

Desmistificando “mitos econômicos”

A primeira desmistificação necessária é de que a única forma de organização socioeconômica é a provida pelo modelo desenvolvimentista do capitalismo. Várias comunidades ao redor do mundo não vivem sob esta égide e, até mesmo o Brasil, somente há cerca de 60 anos pode pensar que faz parte do “Mundo Capitalista”. O Brasil rural que predominou até os anos 1960 não era capitalista, podendo ser classificada, no máximo, como uma sociedade rural de subsistência, com alguma industrialização precária para transformação básica de produtos de origem extrativista.

O modelo de sociedade de consumo em massa somente fincou pé em terras brasileiras a partir dos anos 1960 com a instalação da indústria automobilística que veio a reboque da instalação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, fruto de um acordo entre os Estados Unidos e o Brasil como “recompensa” pelo apoio aos aliados. Este modelo de desenvolvimento pode ser chamado de Keynesiano-Fordista, já que a forma de condução econômica vem das teorias (e da prática) do economista John Maynard Keynes é aliada ao modelo de produção criado por Henry Ford no início dos anos 1900.

Na década de 1950-60 as grandes multinacionais americanas e europeias instalaram fábricas no Brasil (assim como em toda a América Latina) como forma de: i) criar uma produção local de bens de consumo; ii) criar um mercado de trabalho e, por consequência; iii) uma massa salarial que desse suporte ao consumo dos produtos. Embora as fábricas que vieram para o “terceiro mundo” (nota: terminologia que discordo, mas, para as finalidades didáticas deste texto, mantenho muito a contra-gosto, assim como suas assemelhadas: país em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, não industrializados, entre outros) eram, na verdade, fábricas ultrapassadas em seus países de origem que, mesmo assim, serviam aos objetivos.

Outra desmitificação obrigatória é advém da constatação que o Brasil nunca esteve inserido em um “Capitalismo” real, que seguisse verdadeiramente os conceitos capitalistas. O “bom capitalista”, como Henry Ford era, precisaria saber que os salários deveriam subir gradativa e continuamente para que os produtos pudessem fluir com maior velocidade. O “bom capitalista” deveria estar interessado na qualidade de vida e saúde dos funcionários – não por serem “bons” no sentido moral da palavra – mas porque a produtividade dos empregados depende do bem estar destes. No âmbito do Estado, os países verdadeiramente capitalistas implementaram políticas públicas de saúde, educação, seguridade social, entre outras, para manter a população economicamente ativa em boas condições e livre de preocupações. A esta política de “Estado protetor” deu-se o nome de “WelfareState” ou “Estado do Bem Estar Social”. O Brasil, apesar de algumas políticas de proteção ao emprego e de distribuição de renda, ainda são iniciativas PEQUENAS em relação ao que os países capitalistas fizeram.

Para terminar, no Brasil, não existem verdadeiros “Capitalistas” ou, se existirem, são poucos. O verdadeiro “Capitalista” possui duas características essenciais: i) propensão a assumir riscos e possui conhecimento suficiente para equilibrar riscos e resultados; e ii) algum controle ou influência sobre os mercados onde atua. Atenção!!!! Pequenos comerciantes, industriais de pequena produção não são capitalistas stricto sensu!!!!!

O empresário brasileiro tem aversão ao risco, prefere terceirizar o risco para o Estado e reclama das baixas taxas de lucro que conseguem. O capitalista sabe que quantos maiores forem os riscos, maiores serão as recompensas sob forma de lucro, assim como outras vantagens estratégicas, tais como, proteção contra entrantes potenciais e difícil existência de produtos substitutos. Ao mesmo tempo, o empresário brasileiro na maioria das vezes, não consegue influenciar os mercados onde estão inseridos.

O Brasil nunca teve uma “elite empresarial” suficientemente educada e inteligente para saber distinguir investimentos sociais de “desperdício” ou “criação de vagabundos” e que distribuição de renda significa, no curto e médio prazo, mais lucros para todos!

O “empresário” brasileiro reclama dos valores atuais dos salários enquanto Henry Ford dizia que os salários deveriam subir continuamente até que todos os trabalhadores de sua fábrica tivessem capacidade de adquirir um carro Ford.

Modelos de desenvolvimento econômico

Existem, basicamente, duas formas de ativação da economia que levaria um país a um aumento da produção e das trocas e, por consequência, do PIB. Não estamos falando aqui de “Desenvolvimento Sustentável”, “Desenvolvimento Local” ou “Desenvolvimento Territorial”, embora este autor milite nestas searas, o enfoque deste texto é o resultado econômico das políticas adotadas pelos governos. Neste texto chamarei os dois modelos de i) modelo de concentração ou industrialização; e ii) modelo de distribuição de renda. Chamo a atenção que são super-simplificações e que vários outros fatores precisam ser levados em conta, mas, condição “coeterisparibus” é uma aproximação válida para uma apresentação didática neste texto.

  1. Modelo de concentração ou industrialização

No modelo de industrialização a política econômica governamental tratará de criar as condições necessárias para a instalação de industrias e novos negócios, em especial, oferecendo recursos sob forma de financiamentos subsidiados. A ideia geral por trás desta iniciativa é que a partir da instalação destes negócios seriam gerados empregos e através destes empregos a renda seria distribuída, espraiando-se por toda a sociedade. Esse é o modelo de incentivos fiscais que municípios e estados tem aplicado nos últimos anos. Em sua forma mais complexa é o Keynesiano-fordismo, fórmula replicada no mundo todo.

Em resumo, a imagem demonstra a dinâmica econômica e o reinicio do ciclo, marcado pela seta em curva, que ocorre devido ao aumento de demanda.

  1. Modelo de distribuição de renda

Este modelo inverte a lógica da industrialização, pois, os recursos são transferidos diretamente à população – em especial às classes mais pobres – através de aumentos gradativos de salários e de políticas de transferência de renda. Por serem os beneficiários das classes mais humildes, os recursos voltam imediatamente ao mercado, gerando um acréscimo na demanda destes bens e, por consequência, necessidade de aumento da produção, instalação de novas fábricas e geração de novos empregos, reiniciando o processo.

E como está o Brasil?

Conforme já descrito nos primeiros parágrafos, o Brasil somente adentrou à “economia moderna” há apenas umas poucas décadas e, entre 1500 e 2002 o modelo econômico predominante no país era o de concentração, em especial, durante os anos da ditadura, quando o então Ministro da Fazenda Delfim Netto resumiu esta abordagem com a seguinte frase: “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”.

O modelo Keynes-Ford foi adotado como forma de exercer influência e controle dos países do norte ou “centrais” (EUA e Europa) sobre os países do sul (ou “periféricos”). A Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, órgão da ONU de estudos econômicos da região, denunciou esta relação de controle através de uma série de livros e artigos que deram origem à “Teoria da Dependência”. Nomes como Celso Furtado, RaúlPrebish, Enzo Falleto e até Fernando Henrique Cardoso escreveram sobre a teoria da dependência, cujo argumento central era que as classes empresariais em países dependentes não conseguiriam criar um capitalismo autônomo, já que as “burguesias dependentes” reproduzem a relação entre os países centro-perifiria. Bem… como o próprio Fernando Henrique disse: “Esqueçam o que eu escrevi…” e, aparentemente, ele esqueceu e acabou reproduzindo o relacionamento que tanto criticou antes.

O modelo de distribuição somente foi implementado a partir de 2002 com a ascensão do PT e Lula à presidência da república e as principais políticas foram no sentido de distribuir renda através de sucessivos aumentos no salário mínimo e do Bolsa Família e, por outro lado, o aumento do gasto público em obras de infraestrutura e de habitação com os Programas de Aceleração da Economia (PACs), Minha Casa Minha Vida (MCMV), redução das taxas de juros, aumento do crédito disponível e as renúncias fiscais para bens de consumo duráveis.

O resultado INEGÁVEL foi a geração de empregos, a retirada de cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza extrema e a ativação da economia.

O comportamento esquizofrênico do pequeno empresário brasileiro

Um fenômeno interessante (e estranho) é o comportamento do empresariado brasileiro, em especial de pequeno porte, frente aos avanços sociais e econômicos conquistados na última década que pode ser considerado, hora uma esquizofrenia, hora hipocrisia ou, até, falta de discernimento,

O pequeno empresário, no Brasil, tem nos grandes ícones do meio, nos Abílios, Ermírios e, até algum tempo atrás, Eikes, os grandes modelos de sucesso e, mirando-se neles, acreditam fazer parte da mesma casta… nada poderia ser mais errôneo. A elite empresarial brasileira está intimamente conectada às elites empresariais internacionais, eles possuem os verdadeiros atributos dos capitalistas pois, influenciam diretamente nos seus mercados. O pequeno empresário é, na realidade,reles representante destes.

Como mero representante ele adere, mas, não faz uso das verdadeiras vantagens de ser um capitalista, tais como, pagar o mínimo de impostos e reger as taxas de lucros dos seus negócios. O pequeno empresário, na verdade, fica pressionados entre o valor final que o mercado quer pagar e a ganância de lucro do grande industrial. Por ser um representante, quem decide quanto ele vai ganhar é a reunião dos grandes.

Desta condição surge a esquizofrenia, que é metaforicamente aqui representada pela a adesão automática a um discurso que é do grande, mas que não representa a realidade da sua condição.

A condição esquizofrênica, para não dizer, patética do pequeno empresariado traduz-se em uma torcida para que a economia vá mal, somente para poder dizer que o governo – que o fez ter lucros como nunca teve antes!!!! – está errado, chegando ao cúmulo, como foi visto durante a campanha presidencial de 2014, associações comerciais escreverem documentos sugerindo o fim do voto para beneficiários do Bolsa Família!!! São essas mesmas pessoas que recebem esse benefício que compram os produtos que vocês vendem!!!!!

Torcer contra a economia é torcer contra seu próprio negócio!

No Brasil, não há crise, há um empresariado que está acreditando na manipulação midiática e que, por isso, está desempregando pessoas. É claro que existe a necessidade de ajustes e um grande exemplo é a indústria automobilística que vendeu muito nos últimos anos e deixou a população “estocada” de carros novos ou seminovos.

Vamos lá:

  1. A taxa de desemprego está em 5,9%, considerado baixo e dentro da NORMALIDADE dos últimos anos!!!
  2. Os números do PIB foram revisados e, segundo a metodologia da ONU, o Brasil teve um desempenho melhor do que havia sido anunciado.
  3. Embora em alta neste início de ano, a inflação sob os governos Lula e Dilma foram as menores em termos históricos!
  4. O Brasil, atualmente é a 6.a maior economia do mundo;
  5. A Standart&Poor’s manteve o Brasil como economia “grau de investimento”.

De resto, o derrotismo do empresariado brasileiro é patético e o exemplo deste derrotismo doentio e hipócrita pode ser representado pelo vídeo do “empresário” que iniciou um negócio de foodtrucks há alguns anos e que declarou que seu objetivo é “vender a empresa e sair do Brasil”… IDIOTA! É uma arrogância inimaginável deste senhor achar que o sucesso do seu negócio deve-se exclusivamente de sua competência e genialidade empresarial, sendo que uma grande parte desse mérito é que as pessoas passaram a ganhar mais e consumir mais! Resultado de uma política econômica simples: distribuir dinheiro para as camadas mais pobres significa ativar a economia quase que imediatamente.

Um estudo do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, aponta que cada R$ 1,00 investido no “Bolsa Família” adiciona R$ 1,78 ao PIB!

(Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/3305466/ipea-cada-r-1-gasto-com-bolsa-familia-adiciona-r-178-ao-pib)

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