Todos (ou quase todos) concordarão que, presentemente, apesar de certas coisas estarem ocorrendo em nosso Estado, vivemos sob um regime político democrático: todos os nossos representantes foram eleitos pelo povo, não é mesmo? – nós elegemos o governador, os deputados… Aparentemente, isto caracterizaria, de um modo satisfatório, um governo democrático – todavia não. Mas, ainda que a democracia não tenha ruído completamente sobre nós, temos o dever de, enquanto seus defensores, falar a respeito do último ataque que foi empreendido contra ela pelo governador paranaense e seus aliados: o governador pretendia enfiar goela a baixo o projeto chamado pelos funcionários públicos de “pacote de maldades”, que apresentou à Assembleia Legislativa na última terça-feira, dia 10. Não fosse a união, a organização e o heroísmo dos sevidores públicos estaduais, já teríamos sido obrigados a engolí-lo calados.
O governo e os deputados favoráveis ao projeto, mesmo cientes de que os servidores não o aceitavam, de um modo extremamente autoritário, organizou o que o movimento dos trabalhadores chama de “tratoraço”, com o objetivo de aprovar o projeto a qualquer custo. Seu objetivo só não pôde ser realizado devido à heróica atuação dos trabalhadores, que ocuparam a Assembleia Legislativa e impediram que os líderes políticos eleitos pelo povo aprovassem um projeto tão amplamente rejeitado. Não fosse a pressão exercida pelos trabalhadores sobre eles, não teriam aceito o diálogo que, desde o início, havia sido proposto pela categoria. Estes políticos eleitos pelo povo não agiram como representantes do povo; agiram como ditadores. O que mostra o quanto estimam a democracia: nada. O que mostra também que são apenas seus usurpadores.
Só há realmente democracia onde o povo possa efetivamente exercer seu poder político de direito. O voto, o simples poder de eleger para si um representante, não garante a particição política dos cidadãos. De qualquer modo, quando um representante é eleito, ele é eleito como um representante do povo – ainda que, como sabemos, na verdade, a maior parte deles estejam lá representando os financiadores de suas campanhas ou os seus próprios negócios – e, como tais, precisam realizar a vontade do povo. O que aconteceu aqui no Paraná é que “nosso” governador (e a maior parte de “nossos” deputados o apoiaram) apresentou um projeto que modificaria completamente (para pior) a carreira dos funcionários públicos do Estado sem consultar a categoria que seria mais diretamente afetada pelas mudanças impostas, sem consultar a população que também seria diretamente afetada por estas mudanças (aqueles que dependem da educação pública, da saúde pública, da segurança pública, etc.) e, o que é pior, à revelia, indiferentemente à vontade, não somente dos servidores públicos, mas do povo em geral. Conclusão: estes nossos representantes efetivamente não nos representam; na verdade, mostraram, com a maneira com a qual tentaram impor sua vontade a nós, que são indiferentes à nossa vontade. O único meio que eles deixaram para que os trabalhadores fossem ouvidos foi a ocupação da Assembleia Legislativa, o que não teria sido necessário se a forma do exercício do poder por eles realizada não fosse extremamente autoritária.
Isto tudo leva-me a lembrar de uma coisa: da necessidade urgente de uma reforma política no país – de uma reforma política que possibilite realmente a participação política do povo; que não se restrinja a meras modificações das regras do jogo eleitoral; que dê efetivamente poder político ao povo; que torne esta nossa oligarquia disfarçada em democracia real; que limite o poder daqueles que, presentemente, o usurpam.
O que resta hoje aos trabalhadores que lutam pela rejeição do projeto apresentado pelo governo é o que os trabalhadores têm feito: verdadeiras demonstrações de união, organização e heroísmo. Por favor, perguntem a um professor que esteve ou está acampado em Curitiba a respeito das coisas que aconteceram lá nestes últimos dias e compreenderão o que estou dizendo. A grande (no sentido de poderosa, apenas) mídia, como sempre, prefere apenas caluniar nossos colegas. Mas não confiem na mídia, esta senhora opulenta e enganadora!
Wesley Ribeiro (ou Barsa), é professor de filosofia graduado pela Universidade Estadual de Maringá, mestrando em filosofia pela mesma universidade e músico. Como músico, participou de projetos diversos: em 2009, foi convidado a participar do projeto Impermanente, da Companhia Verve de Dança, junto ao músico inglês Chris Vine; no mesmo ano, participou também de um outro projeto seu, chamado Heat Poets, junto ao poeta inglês Chris Torrance, tendo gravado a bateria para a faixa Taliesin at the console, do disco e livro Rori: A book of the boundaries (publicado em 2011); em 2009 e em 2010, participou, em Maringá, da realização da mostra de música instrumental e artes Curta Som, junto ao violonista (e jornalista) Thales Paiva; durante o ano de 2011, foi professor de bateria na escola de música Som Maior, em Campo Mourão. Desde julho de 2012 até o fim de 2013, acompanhou o músico João Elias, o Raulzito Cover; no primeiro semestre de 2013, incorporou-se ao projeto do professor e músico William Versori, chamado Acordes e Encontros, apresentando-se junto ao Grupo Contratempo e ensinando percussão brasileira e leitura e escrita musical para crianças de colégios estaduais da cidade de Campo Mourão; desde o início do segundo semestre de 2013, tem integrado o Regional Pé de Pano, dirigido pelo professor e músico César Leandro Miguel. Durante o ano de 2014, desenvolverá, junto ao músico inglês Chris Vine, o projeto de música improvisacional livre Barsa e Briggy. Como professor de filosofia, atua junto ao Colégio Sesi de Campo Mourão desde 2012, foi professor colaborador da Unespar em 2013 e é professor da rede estadual de educação básica desde o ano passado.