A morosidade e a desorganização, por parte do Ministério da Saúde, no cumprimento do Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a covid-19 em todo país, além de dificultar a retomada de diversos serviços e atividades, abre espaço para atuação de golpistas, como a evidenciada pela Operação Sine Dien (sem data, em latim), deflagrada na manhã desta quinta-feira (22).
A Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DCC-LD) do Rio de Janeiro cumpriu oito mandados de busca e apreensão contra uma empresa que, segundo investigações, negociou doses fantasmas da vacina de Oxford/AstraZeneca com pelo menos 20 municípios do Brasil. O Consórcio Intermunicipal da Comcam (Ciscomcam) chegou a iniciar tratativas para compra das vacinas falsas em março deste ano.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Pernambuco, expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada do RJ. O inquérito foi instaurado logo após oferta a políticos de Barra do Piraí, que desconfiaram da forma de pagamento e também da gramática de língua inglesa e acionou os agentes da Polícia Federal.
Segundo as investigações, a empresa Monserrat Consultoria, localizada no Recife, se colocava como intermediária da Ecosafe Solutions, companhia da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que alegava ter recebido 500 milhões de doses por ter financiado os estudos da vacina.
A Ecosafe entrava em contato com municípios de pequeno e médio porte para oferecer vacinas da Oxford/AstraZeneca. A oferta era de cada dose da vacina a 7,90 dólares. A empresa pedia que as prefeituras realizassem o pagamento antecipado via ‘swift’ – um tipo de transferência bancária internacional simples que pode ser feita até por smartphone -, ou em carta de crédito no momento da suposta postagem das doses em Londres, Inglaterra.
Essas remessas, no entanto, jamais chegariam. O laboratório AstraZeneca publicou uma nota afirmando que todas as doses em produção estão destinadas a consórcios internacionais, como a Covax Facility, e para atender contratos com países. Não há doses remanescentes para serem comercializadas. No Brasil, a Fiocruz é quem produz o imunizante inglês.
Chamou a atenção dos agentes o fato da Ecosafe Solutions, cujo proprietário é Eduardo Leal, além de ser recém criada, utilizar como endereço um escritório de co-working (salas onde funcionários de empresas diferentes compartilham o mesmo espaço) e, ainda, ocultar os dados de registro de seu site.
Leal que se apresentou como representante da distribuidora da vacina Oxford/AtraZeneca no Brasil, foi o empresário que no dia 12 de março ofertou a venda das doses do imunizante para Comcam. Participaram da reunião online, 20 prefeitos da região, secretários da saúde, além de assessores jurídicos e representantes da 11ª Regional de Saúde de Campo Mourão. A compra, conforme informa publicação do site da Comcam , seria realizado via Ciscomcam.
Segundo o Ciscomcam nenhuma cidade chegou a pagar pelas doses. Os municípios estavam apenas em fase de negociação.
Goioerê
O prefeito de Goioerê, Betinho Lima (PSD), teve seu nome citado em matérias de veículos de imprensa nacional como sendo o representante do Ciscomcam frente a Ecosafe e que o mesmo teria assinado uma carta de intenção de aquisição dos imunizantes, destinando quase R$ 2 milhões para esta compra.
Lima informou, por meio de nota, estar surpreendido com a menção de seu nome e disse que “expressa o repúdio da municipalidade quanto à veiculação de matéria informativa desvinculada com a verdade”. Para ele, ao contrário do que cita a matéria, a administração de Goioerê “tampouco reuniu-se com representantes da empresa citada Ecosafe”.
Da Redação com informações PRF