Cerca de 130 famílias atendidas pela Pastoral da Criança do município de Quinta do Sol, receberam cestas de alimentos produzidos por comunidades da Reforma Agrária da região no último sábado (16). Ao todo, foram partilhadas 2 toneladas de alimentos, entre mandioca, milho verde, leite, pão, abóbora, feijão, abobrinha, hortaliças, quiabo e arroz.
A diversidade é fruto do acampamento Valdair Roque e do assentamento Marajó, localizados no próprio município, e do acampamento Irmã Dorothy, de Barbosa Ferraz. Além da Pastoral da Criança, a Paróquia São Judas Tadeu também contribuiu com a organização das doações.
Com pouco mais de 4.500 habitantes, Quinta do Sol reflete a crise econômica e social pela qual o Brasil atravessa. “Já tem muitas famílias passando necessidade mesmo”, resume Laudelina Leal, coordenadora da Pastoral da Criança da cidade. Mais da metade das famílias acompanhadas pela entidade estão em condição de extremo risco de fome, especialmente com o fim do auxílio emergencial, segundo Leal.
“Essa ajuda de vocês é muito importante para as nossas famílias e as nossas crianças. A gente só tem a agradecer por esse alimento que vocês estão trazendo. Que Deus abençoe todas as famílias que produzem esses alimentos”, enfatizou a coordenadora da Pastoral da Criança.
Diante de um cenário de tantas dificuldades, poder partilhar os frutos da terra é uma satisfação, conforme descreve a agricultora Eliene Dias Braga, da comunidade Valdair Roque: “As coisas estão caras, não tem emprego […]. Nós, lá na roça, estamos vivendo do nosso suor, colhendo pra nós comer. Não falta nada pra nós e graças a Deus e ao MST estamos ainda fazendo essas doações”.
O prefeito da cidade, Leonardo Romero (PSD), esteve na entrega dos alimentos e reconheceu a importância da iniciativa das comunidades: “É um programa muito importante, principalmente para as pessoas de baixa renda, com as dificuldades trazidas pelo coronavírus. Meus parabéns a todos os envolvidos. Deus abençoe. Tenho certeza que vai fazer muita diferença às pessoas que mais precisam desses alimentos”.
Pedro Alberto Arrigo (PTC), vereador do município, também participou do momento da distribuição: “A gente da cidade agradece o pessoal do acampamento pela doação, que é muito importante na pandemia pras pessoas”.
Lavouras destruídas voltaram a produzir alimentos
Parte dos alimentos doados vieram da comunidade Valdair Roque, que teve uma lavoura destruída por um fazendeiro e capangas armados em julho do ano passado. Um dia após a destruição da roça, as famílias Sem Terra organizaram um mutirão para replantar a área, e inauguraram o Centro de Produção Agroecológica Pinheiro Machado no local.
A ação violenta fez parte das tentativas de expulsar as cerca de 50 famílias que vivem no local e lutam por Reforma Agrária. O acampamento fica na Fazenda Santa Catarina, de propriedade de uma empresa que acumula grande passivo jurídico, com 964 ações trabalhistas somente na Comarca de Campo Mourão. As camponesas e camponeses seguem a construção da comunidade, com produção de alimentos saudáveis.
Doações são fruto de trabalho coletivo em todo o Paraná
A iniciativa de solidariedade em Quinta do Sol faz com que o Paraná chegue à marca de 504 toneladas de alimentos doados desde o início da pandemia. Mais de 38 mil marmitas também foram doadas em Curitiba e região metropolitana.
A primeira doação deste ano ocorreu no dia 6 de janeiro, no sudoeste do estado. Lá foi partilhada 1 tonelada de alimentos produzidos pelo acampamento Terra Livre, de Clevelândia. Os alimentos frescos foram destinados a moradores do município, à Associação Pró Saúde – responsável pelo hospital local-, para o Lar dos Idosos João Paulo II, e também para complementar as cestas básicas distribuídas pelo Fórum Regional do Sudoeste do Paraná para famílias de Francisco Beltrão.
Cerca de 8.200 quilos de feijão orgânico também já foram colhidos neste mês de janeiro com o objetivo de abastecer cozinhas comunitárias em Curitiba e região, e para doações em Ponta Grossa. As lavouras coletivas ficam no assentamento Contestado, na Lapa, e nos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, em Castro.
As ações se somam à campanha nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), iniciada em abril de 2020 em todo o país. As doações terão continuidade ao longo de 2021, diante da grave crise que o Brasil atravessa por consequência das faltas de iniciativas do Governo Federal para mudar este cenário. A estimativa é de que a pobreza extrema (pessoas que vivem com US$ 1,90 por dia) deve chegar a 10% e 15% da população brasileira (27,4 milhões de pessoas) neste mês de janeiro, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas.
Com Comunicação MST