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Coluna do Austin Andrade

Coluna do Austin Andrade: Corpos dóceis – produto do militarismo contemporâneo. [3]

Corpos doceis

Por Austin Andrade

Terça feira, 07 de janeiro de 2014. Ademar da Silva de Oliveira, um jovem com 19 anos, surdo, portador de deficiência mental, filho mais novo entre cinco irmãos. Ao caminhar por uma Avenida de Cuiabá recebe ordens para parar. Como não pode escutar os gritos do policial militar, Ademar prossegue a caminhada, mesmo estando desarmado, mesmo não tendo nenhum antecedente criminal, mesmo sendo um jovem que mal saia de casa…Ademar é alvejado por quatro tiros e morre. Logo se ouvem gritos de desespero do pai e da mãe que mal podiam acreditar que o filho fosse assassinado por quem justamente deveria protegê-lo. Assim como em tantos outros casos, ficou evidente que o policial assassino enxergou o jovem Ademar apenas como um potencial inimigo que deveria ser abatido. Resultado? Catástrofe.

06 de fevereiro de 2015, Salvador. Doze jovens são mortos perto de suas casas. Todos tinham marcas de tortura digna do que os inquisidores faziam com quem fosse considerado herege. Braços quebrados, olhos afundados. Todos foram mortos com tiros na nuca. O que mais revoltou os moradores? Os assassinatos ocorreram depois de serem rendidos por policiais militares.

Exemplos como esses pelo Brasil não faltam para ilustrarmos como é o trabalho da polícia que mais mata no mundo. Praticas essas consolidadas e enraizadas como inquestionáveis por nossa estrutura mental.

 Afinal! Aprendemos desde que nascemos que a hierarquia existe para ser respeitada. Para que a ordem seja mantida. O pensamento positivista está vivo para ditar nossos valores, para manter essa estrutura viciada e carcomida no poder.

Uma coisa ninguém pode duvidar. A estrutura de poder formado ao longo de décadas, se não séculos, tem feito que grande parte das pessoas enxerguem os policiais militares não como sujeitos aptos a protegerseus habitantes, mas sim como representantes de um estado opressor e agressivo, em que as leis não são iguais para todos.

E os policiais, dentro da formação que descrevemos nas colunas anteriores, tem se mostrado incapazes em perceber que o outro, que o cidadão civil, não é um inimigo a ser combatido, a ser morto. O pensamento de guerra presente na formação militar tem se mostrado um desastre. Qualquer encontro pode se tornar um grande confronto. Pelo menos na cabeça dos profissionais da segurança, melhor, na cabeça dos profissionais da guerra.

Para Maquiavel, o conflito militar e a guerra são próprios da estrutura de poder. A ética seria constituída pela conduta da ação política, pela maneira de lidar com a necessidade e pelo resultado que a ação ajuda a estruturar.

Ou seja, para Maquiavel, o governo para manter o poder absoluto tem que usar a força militar, nem que para isso tenha que fazer inimigos, nem que esses inimigos sejam seus próprios cidadãos.

Sem querer cair no anacronismo, mas podemos perceber que no mundo capitalista os governos existem para proteger grupos econômicos, que por fim dão sustentação para quem está no poder. Tal configuração confirma a ideia que a ordem deve ser mantida, não para que seus habitantes fiquem bem, mas sim para que a estrutura social e econômica não seja quebrada, para que o protagonismo continue sendo de quem está no topo da pirâmide.A policia militar do Brasil, mesmo que seus soldados não tenham consciência, está trabalhando para que tal ordem seja mantida. Para quem interessa a desmilitarização da PM? Para quem interessa ter uma corporação dotada de valores humanos, onde eles possam se organizar para melhorar suas próprias condições de trabalho? A quem interessa que os policiais militares se transformem em seres pensantes? A quem interessa que na formação do policial, eles aprendam que a população não é inimiga? Que não estamos em guerra civil contra nenhum grupo estrangeiro e que a força da caneta muitas vezes é superior que a força de uma arma?

O objetivo dessas últimas três colunas foi para pensarmos sobre o militarismo da polícia. Muitas coisas precisam ser analisadas, mudadas e melhoradas. É complicado ficarmos a mercê de um mundo que esteja sempre em desenvolvimento, para o bem ou para o mal, as coisas mudam o tempo todo.

É complicado que uma corporação com técnicas ultrapassadas de repressão e abordagem consiga atender os anseios da sociedade moderna, de uma sociedade que exige cada vez mais um tratamento humano. As mídias estão aí, cada um carrega seu celular, cada um tem sua câmera ambulante, o que antes era escondido, o que antes era aprontado sob o manto escuro da vergonha, agora é explícito, e isso ajuda a provocar entre as pessoas que gostam de pensar o mundo, uma corrente de questionamento e indignação. Nada precisa ficar como está.

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