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Coluna do Austin Andrade

Coluna do Austin Andrade: Ex ministro de Fernando Henrique Cardoso diz que ódio move os ricos.

Bresser

Todos já devem ter escutado o velho ditado, “o mundo dá voltas…” principalmente quando nos deparamos com algo que era considerado até pouco tempo inimaginável. Pois bem, foi exatamente essa impressão que tive ao folhear alguns jornais no fim semana.

E não é que a surpresa veio justamente do ex Ministro da Fazenda no governo José Sarney. Bem, as qualidades dele são muitas: advogado, administrador de empresas, economista, cientista político. Luiz Carlos Bresser Pereira, professor benemérito da Fundação Getúlio Vargas, ocuparia ainda os cargos de Ministro da Reforma do Estado durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, e de Ministro das Ciências e Tecnologia no segundo mandato. Se já não bastassem esses predicados, o homem ainda foi um dos fundadores do PSDB em 1988.

Em entrevista para o lançamento de seu novo livro, “A Constituição Política do Brasil” (Editora34), o ex ministro foi duro com a elite brasileira, sobretudo com o ódio manifestado nos dois últimos anos do governo petista.

Bresser Pereira não disse nenhuma surpresa para quem se dedica a estudar como o pensamento ocidental, sobretudo o positivismo, teria moldado não apenas nosso sistema de pensamento (sim, isso existe), mas nosso jeito de ser, ver e conceber o mundo. Ou as senhoras e os senhores acham que o nazi – fascismo presente no consciente de boa parte da chamada burguesia e dos que não possuem boa formação educacional (formação humana) seja algo que caiu do céu como um passe de mágica? Isso foi uma construção que ganhou força, sobretudo no advento da “velha república”. Como dizem os acadêmicos, “a elite econômica brasileira não é uma elite intelectualizada”.

O ex ministro pôs fundo o dedo na ferida e lembra do quebra de paradigma que tanto tem assustado a elite conservadora. A ascensão de quem não possuía voz, de quem sempre foi relegado a um terceiro ou quarto plano dentro da conjuntura nacional. Essa nova ordem social não está sendo bem digerida por quem sempre teve o protagonismo no país, por quem não acha justo que o “status quo” seja quebrado, quase uma sensação de divindade, assim como era comum em muitos reinados da Europa. Onde os representantes da nobreza se viam como representantes de Deus na terra, ou seja…semi deuses em forma de humanos. Pois esse sentimento é forte e está presente em nosso meio, chamando atenção dos estudiosos das Ciências Sociais e dos historiadores.

 Como historiador, não posso fazer qualquer previsão para o futuro, deixo isso para as mães Dinás de plantão. Também não vou defender o PT e nenhum partido da base aliada ou da oposição, o ponto que quero chegar é um pouco mais profundo. É justamente o ódio de quem não aguenta ter que dividir o pão, o ódio de quem não consegue pagar barato para ter uma empregada doméstica, o ódio de quem se incomoda com as políticas de cotas, pois os negros, mulatos e afins presentes nas elitizadas e brancas universidades públicas poderiam dar um “ar de pobre” onde costumeiramente era um lugar representante das “políticas eugênicas”, que excluíam parte considerável da população do centro político e do poder. O ódio de quem não suporta a ideia de encontrar o porteiro do prédio em Cancun ou em Porto de Galinhas.

Ódio esse exposto e fomentado através de declarações deprimentes nas redes sociais, incentivados por jornais que vendem sua parte editorial por alguns trocados. Talvez mais que econômico, o problema brasileiro seja de ordem moral. Enquanto parte da classe média e da elite não compreender a nova ordem social, não só do Brasil, mas a que está ganhando as ruas da Europa, uma ordem que está se contrapondo com a extrema direita, que em geral é racista e xenófoba, teremos sérias dificuldades em encontrar nosso caminho.

A sensação de confronto estará no ar, sobretudo entre os que se alimentam apenas dos jornais que tem em seu passado o apoio ao golpe militar, sem se contrapor a outras mídias, sem se preocupar com o contexto histórico da sociedade. Nada surge da noite para o dia, qualquer mudança, por mais tênue que seja provavelmente leve um tempo para se sacramentar, é preciso entender isso. Caso o contrário a “sensação de enfrentamento” estará sempre presente.

O PT, PSDB, enfim, todas as siglas tem que ser questionadas, investigadas, mas que isso seja feito sem ódio, com inteligência, com argumentações inteligentes, profundas, analisando a partir de um contexto historiográfico. Como disse algumas colunas atrás, “não deixe seu filho ou filha faltarem às aulas de história, pois os danos futuros podem ser permanentes”. Mais que saber do passado, é preciso compreender a formação do “pensamento ocidental contemporâneo”, isso dá trabalho, mas é muito prazeroso.

Que todos e todas tenham uma ótima semana.

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