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Coluna do Emílio Gonzalez

Coluna do Emílio Gonzalez: Sobre a greve nas Universidades Federais

Foto: Ta Sabendo

Foto: Ta Sabendo

Como muitos perceberam, já rondam notícias concretas sobre a construção de uma greve de docentes nas IFES (Instituições Federais de Ensino Superior).

Ao contrário do que muitos possam pensar, greve não é uma filosofia, um estilo de vida, uma religião: é uma solução, quase sempre traumática, adotada por trabalhadores desesperados por serem repetidamente  ignorados ou desrespeitados em infrutíferas mesas de negociação.

Outro dia, um colega da minha base sindical me perguntou se a greve era a melhor saída, e porque não mudávamos nossos métodos. Como historiador, expliquei que, nos primórdios das lutas trabalhistas, quando queriam protestar e serem ouvidos, os trabalhadores costumavam quebrar máquinas, incendiar fábricas e assassinar gerentes e capatazes. Eram os “luddistas”, trabalhadores inspirados pelas ideias de um ativista que viveu nos primeiros anos da revolução industrial europeia. “Qual alternativa você sugere então que adotemos, e que possa produzir impactos mais efetivos do que uma greve longa e pacífica?” O professor pensou, pensou, e nada me respondeu.

Acho que ele entendeu a mensagem.

A greve é, sim, uma medida extrema, mas profundamente necessária (e geralmente a única efetiva) em alguns contextos. Quando patrões e empregados (neste caso, governo e sindicatos) não chegam a acordo sobre suas diferenças, a greve passa a ser um horizonte possível. É um direito constitucional. E se é um direito legal, seu exercício não pode ser tratado como crime, assim como grevistas não podem ser tratados como criminosos, como temos visto recentemente, no caso dos professores do Paraná.

A greve dos docentes das IFES foi marcada para ser deflagrada no dia 28/05. Essa data foi definida pela base da ANDES-SN (Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – Sindicato Nacional).

E o que é a ANDES?

A ANDES-SN é uma organização sindical feita pela base. O sistema de educação pública federal de nível superior é constituído por cerca de 59 universidades federais. Numa mesa de negociação, seria impossível juntar e colocar todos os quase 60 “negociadores” de cada instituição para apresentarem propostas e reclames de sua base junto ao governo federal. Ninguém se entenderia, e a coisa viraria uma torre de babel.

Por essa razão, nos anos 1980, surgiu a ANDES-SN, entidade criada pelos docentes das IFES com o intuito de ser o sindicato único a representar toda a categoria. A diretoria da ANDES-SN é escolhida em votação por delegados de todas as seções sindicais do País que compõe a entidade.

Como qualquer associação docente existente em quase todas as 59 IFES do País, o SINDUTFPR (Sindicato dos Docentes da UTFPR) constitui uma fração da ANDES. A soma de todas essas frações, no conjunto, constituem a totalidade da base da ANDES-SN.

Pelo menos uma vez por ano (geralmente no inicio do ano), delegados escolhidos em suas seções sindicais se reúnem num congresso para definir e atualizar, de forma ampla e democrática, a pauta de lutas dos docentes das IFES baseados na ANDES. Nesse congresso, também são eleitos novos diretores, criados GTs para discutir questões específicas sobre a precarização e carreira docente, discutidas alterações/adequações/acréscimos no estatuto da entidade, aprovadas moções de apoio, analisadas conjunturas políticas, entre outras ações.

A greve, atualmente em construção, foi discutida no último congresso da entidade, realizado na cidade de Brasília no final do mês de fevereiro do presente ano. Com efeito, pode-se dizer que a opção pela greve, bem como a data para seu provável início, foram decisões que partiram dos próprios docentes sindicalizados que compõem sua base, e não de uma diretoria encastelada em gabinetes fechados e burocráticos, seres biônicos inatingíveis e anti-democráticos.

A greve, agora marcada para o dia 28/05, foi uma construção coletiva do movimento docente nacional.

Agora, cabem as assembleias locais (como a UTFPR) decidirem se seu corpo docente irá aderir ou não ao movimento docente nacional, e quando será essa adesão.

Para quem acha que a greve é coisa de radicais, baderneiros e black bocs, sugerimos a leitura de um bom livro de Historia; afinal, ou era greve, ou era a quebra de máquinas, como faziam os trabalhadores do passado. Não que eles não tivessem razão para aplicar seus métodos violentos. Afinal, ainda não existiam acordos coletivos de trabalho, nem direitos trabalhistas assegurados (embora os de hoje existam, mas nem sempre são cumpridos).

A grande diferença é que hoje, ao invés de quebrarmos máquinas, incendiarmos nossos locais de trabalho e assassinarmos nossos encarregados, apenas paramos a produção até forçar o diálogo. Em outras palavras, não quebramos mais as máquinas porque evoluímos na nossa forma de organização coletiva do trabalho e da ação política.

Ironicamente, hoje sabemos que quem tenta resolver conflitos quebrando máquinas, ateando fogo em seus locais de trabalho e espancando seus oponentes, são os governos violentos e autoritários, como ocorreu aqui no Paraná de Beto Richa.

Pelo menos neste caso, os luddistas, agindo da forma como agiam, estariam cobertos de razão.

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SOBRE A PAUTA DOS DOCENTES DAS IFES: CLIQUE AQUI

 

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