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Cultura

Coluna do Rogério Tonet: A “antipedagogia” da grande imprensa em duas dimensões: superficialismo e dualidade.

grande-midiaPor Rogério Tonet*

Primeiramente, depois de quase dois anos sem escrever colunas semanais, quero agradecer ao amigo Raoni de Assis pelo convite e pela confiança em minha pessoa para contribuir neste blog, que tem crescido muito em audiência e em conteúdo. É muito bom poder participar de um ambiente (mesmo que virtual) onde pessoas inteligentes e verdadeiramente interessadas em manter um debate sério sobre os mecanismos de funcionamento da sociedade e das soluções para suas complexas dificuldades.

Então, para minha primeira contribuição, escolhi um tema sobre o que seria a perfeita antítese deste espaço: a grande imprensa e os reflexos de sua ação sobre a sociedade, já que os meios de comunicação de massa tornaram-se a principal fonte de informação e de difusão ideológica desde a década de 1950 e apenas agora, com o advento da internet, tem encontrado alguma concorrência, em especial, em espaços similares a este.

Preliminarmente, existem dois assuntos que já tem espaço garantido no debate sobre mídia que são: a difusão ideológica parcial, ou seja, a mídia comercial tem um lado ideológico definido e somente irá mostrar os assuntos que interessam a expansão desta linhagem de pensamento e, decorrente desta, a discussão sobre a dita “Ley dos medios” ou “regulação da mídia”. Estes dois assuntos serão tratados em coluna posterior, mas é importante alertar que a mídia, como qualquer outro setor econômico, precisa sim de regulação para evitar o domínio econômico de um ou poucos grupos, criando monopólios ou oligopólios na geração das notícias.

No entanto, escolhi uma outra faceta da questão, que é a produção noticiosa que produz uma sociedade onde as pessoas desaprendem a pensar e refletir sobre os assuntos e, como consequência, o debate torna-se raso e, assim, reduz-se a dualidades: o que é bom e o que é ruim já vem estabelecido, empacotado, pronto para o “consumo” como verdade única, sem apelação a qualquer instância, pois a “mídia” ou o “jornalismo” – porque existem jornalismos nanicos em conteúdo e Jornalismos com letra maiúscula – tornou-se a única fonte de informação que atinge a população em grandes segmentos.

Então, a grande mídia e o pretenso “jornalismo” pautado por anunciantes e coligados políticos, se não há sequer a possibilidade de contestação na mesma dimensão e, se inibe o debate, deixa de produzir notícias e passa a produzir “verdades” aos olhos desatentos. Os leitores contumazes destes meios passam a aceitar “graciosamente” aquelas linhas e parágrafos como verdades e, deixando de lado sua autonomia intelectual e tornando-se um difusor destas “verdades” que lhe foram vendidas, sem qualquer reflexão sobre o assunto.

O mecanismo principal desta “antipedagogia” do desaprender a pensar é estabelecer a priori uma dualidade, existe um lado bom, uma série de procedimentos e que são desejáveis à sociedade e um grupo de pessoas que são portadoras deste pacote de “bondades”, enquanto do outro lado, existe o erro, o feio e tudo que há de ruim.

A dualidade imposta impede o debate, inibe a capacidade crítica de quem a aceita, reduz tudo a um duelo entre o bem e o mal e deixa de lado a complexidade humana de que todos nós não somos nem santos e nem demônios, criando uma arrogância de pensamento e uma luta que tem se transformado em raiva e que, portanto, tornando-se irracional, deixa o debate para tornar-se briga. Quando ouvi a primeira vez, nos anos 1990, a expressão “ele é uma pessoa do ‘bem’” e estas palavras vieram da boca da “apresentadora Xuxa” (sic) pensei que esta ideia de separar a sociedade em bons e maus já estava sendo gestada.

Já há algum tempo tenho usado uma expressão para designar as pessoas que aceitam as notícias da grande imprensa como verdades incontestes sobre a sociedade e passam a repeti-las sem qualquer reflexão sobre o tema ou busca por outras fontes de informação. Esta expressão é “papagaio teleguiado”, já que o papagaio, na verdade, não pensa para falar, ele foi adestrado, condicionado a falar somente aquilo que lhe foi permitido e que foi repetido a exaustão… É a versão intelectual do condicionamento que tornava os trabalhadores em “corpos dóceis”, nas palavras de Foucalt.

Triste fim daquele que aceita ser um desses papagaios… deixa seu cérebro em casa e entra em debates com a profundidade de um pires, mas com a arrogância de quem tem certeza que “está certo”.

Há muito tempo deixei de ter “certezas” e “estar certo”, neste contexto, é uma condição passageira para quem tem a humildade de saber que, a rigor, nada sabemos e que não existem rigores na vida em sociedade ou na condição humana.

Boa semana! Reflita sobre isso…

 Nota: o termo “antipedagogia” aqui tem outro significado, já que León Tolstoi propunha em fins do Séc. XIX uma pedagogia voltada para a liberdade e não uma escola que condiciona o aluno para obedecer regras… Aqui a ideia é que a grande mídia tem tolhido a população de sua capacidade crítica e de criar suas próprias convicções

Rogério Tonet

* Rogério Tonet é professor e consultor. Administrador, Mestre (UFPR, 2004) e doutor em Administração (UFSC, 2014), especialista em Marketing e Recursos Humanos. Pesquisador nas áreas de movimentos sociais, democracia participativa e formas alternativas de ocupação e renda. Escreve para o Blog do Raoni todas as quartas-feiras.

2 Comentários

2 Comments

  1. Michele

    28 de janeiro de 2015 às 21:30

    Muito bom!!!

  2. Rogério Tonet

    5 de fevereiro de 2015 às 8:39

    Obrigado Michele!!!

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