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Coluna do Wesley Ribeiro

Coluna do Wesley Ribeiro: carta à professora, sobre a educação matemática e outras coisas relacionadas

matematização

Por Wesley Ribeiro

Sabe, professora, fui daqueles que, desde a infância, ou pelo menos desde a pré-adolescência, interessou-se pelas ciências. Entretanto, não daquele tipo – tão útil à sociedade, diga-se de passagem – que comprazia-se em solucionar equações ou resolver problemas aplicando-lhes fórmulas. No ensino médio, interessei-me pelos conceitos físicos e também pelos matemáticos: eram estes conceitos que eu buscava “saborear”. Hoje, uma de minhas inquietações talvez seja devida ao problema da matematização da natureza: como isto é possível e como se dá? Não considero a solução deste problema algo fácil. Talvez eu jamais venha a compreendê-lo satisfatoriamente; em verdade, talvez eu nem mesmo persiga a sua solução…

A matemática, é ela uma construção humana? Se a resposta for afirmativa, questionaremos ainda: mas trata-se ela de uma construção arbitrária (com relação à natureza), como são, de certo modo, os jogos, como o futebol e o xadrez? Ou tratar-se-ia de uma construção que procuraria imitar, de certo modo, as leis da própria natureza – ou da própria razão? Ou ela é ainda outra coisa?

Assumimos com facilidade nossa carência em conhecer de modo mais aprofundado os conceitos e procedimentos matemáticos e é verdade que as necessidades práticas advindas do exercício de sua profissão exigem do pedagogo um domínio mínimo da linguagem matemática, assim como exigem do matemático que ensina matemática um domínio mínimo da linguagem e métodos pedagógicos, mas os resultados garantidos através do ensino da matemática como praticado entre nós não vão além do apreender certos esquemas para manipulação de dados numéricos e aplicação de fórmulas – na melhor das hipóteses. A história da matemática pode torná-la mais significativa, é verdade, mas pode não deixar de ser apenas uma ilustração que agrade os sentidos ou a imaginação das crianças e adolescentes, voltada para o mesmo fim para o qual se volta o ensino da matemática hoje. Qual é este fim?

Parece-me que, em um mundo como o que vivemos atualmente, que exige tão extremada agilidade de seus homens, não há mais lugar para a reflexão sobre os princípios, e o ensino das ciências, de um modo geral, e o da matemática, mais particularmente, não oferecem aos seus alunos a possibilidade desta reflexão. Todavia, é permitido perguntar-se: mas que importância tem esta reflexão? E esta questão, em nosso meio, emana naturalmente das mentes inquietas de nossa época. Por isso a filosofia se encontra tão constrangida em nosso meio: a sua reflexão sobre princípios não é naturalmente aceita entre nós, mas ao contrário, ela é naturalmente repudiada como supérflua. Quer dizer, esta disposição para a reflexão já não faz parte de nossa cultura – é o que parece.

Compreender de modo mais aprofundado a natureza da matemática não é tarefa fácil. Não é por sua dificuldade, entretanto, que esta tarefa deva ser deixada de lado. Porém, se nossos costumes já não podem justificá-la, o que poderia? Nossos compatriotas clamam por esta justificativa; devemos apresentá-la ao tribunal de contas do Estado moderno. Onde encontrá-la? Ou a questão deveria ser outra, a saber: por que não investigar problemas desta natureza?

Não creio tratar-se, voltando ao problema da matematização da natureza, de obra realizada por gênios dotados de poderes sobre-humanos – pensar assim pode não estar conforme a natureza das coisas e, além disso, pode levar-nos ao abandono da possibilidade de pensarmos a matematização da natureza a partir de suas raízes (se isto já não for o resultado de um abandono como esse).  Pergunto, dirigindo meu pensamento para uma suspeita: como aprenderam matemática, esses Galileu, Descartes, Liebniz, Newton? Levanto uma hipótese, que formulo na forma de uma questão: o modo como a estudaram não proporcionou a eles os instrumentos necessários à realização daquilo que fizeram nas ciências? Nesta relação que travaram estes homens com a matemática, da maneira como a travaram, não está o segredo para a possibilidade da realização das grandes obras que levaram até o fim, ainda que esta relação não fosse suficiente para explicar o tal processo de matematização da natureza, mas apenas necessária? Quer dizer, uma outra concepção da matemática, uma outra forma de compreendê-la e lidar com ela, não poderia tornar a nós possível a atividade de matematizar processos naturais, ou ao menos compreender esta matematização dos processos naturais mais satisfatoriamente? – Dado que hoje esta compreensão praticamente não existe…

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