Dentre os modos como a pesquisa acadêmica em filosofia é realizada, há uma forte tendência em crer-se que pensar é argumentar em favor de teses – ou contra elas: é isto que essencialmente teriam feito os filósofos. Mas, crendo ser a estrutura argumentativa do discurso a essência do pensamento, os pesquisadores da filosofia universitária (e também os pesquisadores de outras áreas) e seus jovens discípulos confundem coisas muito distintas. Eles parecem desconhecer a diferença e a semelhança que há entre as palavras e as outras coisas.
Palavras também são coisas. Mas a palavra é uma mão apontada para outra coisa que não confunde-se com ela e não lhe pertence: a palavra não é o mesmo que aquilo para o qual ela se volta. A palavra em si mesma é sempre vazia e carente e não traz consigo a própria coisa para a qual ela deveria apenas chamar a atenção. Estes pesquisadores falam em “indústria cultural”, “causalidade”, etc. e acreditam assim falar das próprias coisas apenas mencionando e relacionando entre si estes rótulos que sobre elas são postos. Por ser também coisa a palavra, podemos muito bem ignorar, esquecer ou ocultar o seu vazio e erigir estruturas argumentativas indiferentes às coisas que não são palavras para as quais as palavras se voltam – estas estruturas têm tomado para si o nome de pensamento. Mas que coisas o pensamento pensa?
Pensar não é agrupar, relacionar e classificar palavras. O pensamento não deve voltar-se às próprias coisas? Isto não se faz sob roupagem alheia. E onde estão as coisas que não são meramente palavras? Nos livros é que certamente não as encontraremos. Falam dos textos filosóficos como a (única) porta de entrada para a filosofia, mas os textos tornam-se ao mesmo tempo obstáculo contra aqueles que buscam a filosofia, pois seu pensamento torna-se, com a compulsiva leitura dos textos filosóficos, dependente de suas expressões, de seus “conceitos”. O pensamento alheio torna-se amarra para o pensamento próprio porque toda a intuição, toda a percepção é pré-determinada e condenada por ele a não poder mais possibilitar a visão de nada novo. O pensamento pré-determinado vê em toda parte apenas o que já foi visto por outros – e, em grande medida, apenas acredita ver. Mas dizem: “Isto é fruto da indústria cultural!”, “O que Marx disse sobre o capital é palpável!”, etc., etc. Não é melhor crer-se que pensar é determinar de algum modo o que se nos apresenta como percepção ou intuição?
O pensar universitário perdeu há muito seu contato com o mundo. Somos adestrados a ler e explicar textos, deixamos tudo o mais de lado. Abandonamos o pensar como voltar-se às próprias coisas. Pensar é meramente um jogo de palavras.