conecte-se conosco

Olá, o que você está procurando?

Coluna do Wesley Ribeiro

Coluna do Wesley Ribeiro: Sobre a redução do pensamento à argumentação em defesa de teses ou contra teses

Wesley-RibeiroDentre os modos como a pesquisa acadêmica em filosofia é realizada, há uma forte tendência em crer-se que pensar é argumentar em favor de teses – ou contra elas: é isto que essencialmente teriam feito os filósofos. Mas, crendo ser a estrutura argumentativa do discurso a essência do pensamento, os pesquisadores da filosofia universitária (e também os pesquisadores de outras áreas) e seus jovens discípulos confundem coisas muito distintas. Eles parecem desconhecer a diferença e a semelhança que há entre as palavras e as outras coisas.

Palavras também são coisas. Mas a palavra é uma mão apontada para outra coisa que não confunde-se com ela  e não lhe pertence: a palavra não é o mesmo que aquilo para o qual ela se volta. A palavra em si mesma é sempre vazia e carente e não traz consigo a própria coisa para a qual ela deveria apenas chamar a atenção. Estes pesquisadores falam em “indústria cultural”, “causalidade”, etc. e acreditam assim falar das próprias coisas apenas mencionando e relacionando entre si estes rótulos que sobre elas são postos. Por ser também coisa a palavra, podemos muito bem ignorar, esquecer ou ocultar o seu vazio e erigir estruturas argumentativas indiferentes às coisas que não são palavras para as quais as palavras se voltam – estas estruturas têm tomado para si o nome de pensamento. Mas que coisas o pensamento pensa?

Pensar não é agrupar, relacionar e classificar palavras. O pensamento não deve voltar-se às próprias coisas? Isto não se faz sob roupagem alheia. E onde estão as coisas que não são meramente palavras? Nos livros é que certamente não as encontraremos. Falam dos textos filosóficos como a (única) porta de entrada para a filosofia, mas os textos tornam-se ao mesmo tempo obstáculo contra aqueles que buscam a filosofia, pois seu pensamento torna-se, com a compulsiva leitura dos textos filosóficos, dependente de suas expressões, de seus “conceitos”. O pensamento alheio torna-se amarra para o pensamento próprio porque toda a intuição, toda a percepção é pré-determinada e condenada por ele a não poder mais possibilitar a visão de nada novo. O pensamento pré-determinado vê em toda parte apenas o que já foi visto por outros – e, em grande medida, apenas acredita ver. Mas dizem: “Isto é fruto da indústria cultural!”, “O que Marx disse sobre o capital é palpável!”, etc., etc. Não é melhor crer-se que pensar é determinar de algum modo o que se nos apresenta como percepção ou intuição?

O pensar universitário perdeu há muito seu contato com o mundo. Somos adestrados a ler e explicar textos, deixamos tudo o mais de lado. Abandonamos o pensar como voltar-se às próprias coisas. Pensar é meramente um jogo de palavras.

Clique para comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja também

Campo Mourão

O festival proporciona atividades culturais e recreativas nos três parques municipais.

Campo Mourão

Aniversariante chegou a se esconder no meio do mato pra fugir de blitz da aglomeração.

Todos

Ao todo foram 265 prêmios oferecidos aos consumidores na campanha promocional.

Campo Mourão

Cidade já perdeu 126 moradores para doença