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Coluna do Austin Andrade: ADAP, a pátria mourãoense de chuteiras

O lateral direito Elvis comemorando seu gol com a torcida.

O lateral direito Elvis comemorando seu gol com a torcida.

Na história, nem sempre o que é mais velho é melhor, o que é velho nem sempre é histórico. Acontecimentos recentes também o são. Quem gosta de futebol e vê o inicio dos Campeonatos Estaduais, pode se lembrar do ano de 2006, quando a ADAP, Associação Desportiva Atlética do Paraná, de Campo Mourão, foi à final do campeonato paranaense contra o Paraná Clube. Há muitos pesquisadores que veem o futebol como um pequeno universo para se analisar a sociedade.

O campeonato de 2006 prometia para a ADAP. O início foi promissor. Na estreia, a 11 de janeiro, foi à Londrina e ganhou do time local. Logo em seguida mais três vitórias consecutivas: Toledo, Roma, de Apucarana e Paranavaí. Quatro jogos, quatro vitórias. A torcida mourãoense sentiu que o ano seria bom. No último jogo do primeiro turno, em Curitiba, a ADAP foi derrotada pelo Coritiba.

Mesmo assim, em vista da fórmula do campeonato, a ADAP entrava no segundo turno com margem de pontos para estar entre os quatro primeiros ao final do turno e disputar a fase de “mata-matas”. Pesquisadores sabem que o futebol é um universo sociológico e antropológico cuja história revela maneiras de coesão, solidariedade e conflitos sociais. O estado todo conhecia a ADAP, a sociedade mourãoense se unia em torno de seu clube, símbolo de orgulho coletivo. São momentos em que diferenças sociais parecem se amenizar.

O segundo turno chegou e nova vitória sobre o Londrina. A ADAP frequentava a maior parte das conversas na cidade. Em seguida, vitória sobre o Toledo.  A alegria pelo time era a alegria da torcida e da cidade. Para pesquisadores, em torno do futebol, grande parte dos brasileiros é imbatível e o Brasil seria um país em que podem tirar quase tudo dos brasileiros, menos o futebol. Ópio ou força do povo? Não é desprezível que a política não perca oportunidades de usar esse esporte. Como se acreditava, a ADAP se classificou. O time estava nas quartas-de-final e àquela altura  Campo Mourão vestia chuteiras. A cidade abraçava a equipe.

Vieram as quartas de final. Ir até ali promovia um misto de confiança e dever cumprido. A ADAP jogaria duas vezes contra o Atlético. Dois jogos, duas vitórias da ADAP: uma em Campo Mourão e depois em Curitiba. O Atlético estava eliminado. Era agora a semifinal. A memória do futebol é vibrante de lembranças, mas lembrar não é saber. O futebol como matéria de análise sofre preconceitos de quem acha que o jogo nem merece ser considerado. Pesquisadores sabem, porém, as possibilidades de análise social que o futebol dispõe, como elemento vivo da cultura popular.

Eliminar o Atlético encheu o time e a torcida mourãoense de confiança para enfrentar na semifinal o Coritiba. Depois de perder em Curitiba, a torcida se mobilizou para o segundo jogo em Campo Mourão.  Em 29 de março de 2006, com 5.389 pessoas no estádio, a ADAP venceu e a disputa foi para os pênaltis: vitória dos mourãoenses por 4 a 2. Era a cidade em triunfo. Foi uma verdadeira comoção pelas ruas: nunca um time de Campo Mourão tinha ido tão longe. A confiança estava nos rostos das pessoas.

Pesquisadores do futebol também tomam o universo da bola para tratar de temas da vida pública brasileira menos louváveis, como corrupção e suborno, favorecimentos e poder. O sentimento de que algo não estava certo para a ADAP na final veio da Federação Paranaense de Futebol, que vetou o estádio de Campo Mourão. O futebol é um mundo de conflitos, mas de unidade. Povo e prefeitura se uniram contra a Federação: o clube, a imprensa e a prefeitura reclamaram juntos, mas de nada adiantou. O jogo final foi marcado para Maringá. Oito mil mourãoenses invadiram a cidade-canção. O personagem do jogo foi o árbitro, que teria prejudicado a ADAP na derrota  por 3 a 0. Em Curitiba, uma semana depois, empate em 1 a 1 e o Paraná Clube era o campeão.

Mesmo com a derrota, em Campo Mourão reinava um sentimento de orgulho. A campanha da ADAP em 2006 mostrou como o futebol é um importante agente de agregação social. O sentimento bairrista aflorou. Era uma maneira de a região mostrar seu valor. As sensações que Londrina e Maringá viveram em 2014 ao disputar o título paranaense, os habitantes de Campo Mourão e região desfrutaram em 2006. Por alguns meses, pelo menos, a cidade se transformou. Estar entre os melhores do estado elevou a autoestima da população. Para quem gosta de futebol, pelo menos por pouco tempo, o céu foi pé vermelho.

Austin Andrade*Austin Andrade é Historiador graduado pela Universidade Estadual do Paraná – Unespar, Interprete criador e professor de dança clássica e contemporânea. Escreve todas as segundas-feiras para o Blog do Raoni

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