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Coluna do Austin Andrade: O Lacerdismo está entre nós…

Lacerda

A história do nosso país, assim como de qualquer outro lugar, é marcada por algumas figuras grotescas, que de tão caricatas parece ter saído de um catalogo de estereótipos. Seres que conseguiram agir dentro do seu período histórico causando alguma espécie de impacto, sejam negativos ou positivos. Citando um exemplo claro, poderia lembrar Getúlio Vargas. Dentro da sua singularidade, conseguiu flertar com o nazismo alemão, foi simpático ao fascismo italiano, se aproximou dos Estados Unidos nos anos de 1940 e por fim tentou dar um abraço no PCB buscando o fortalecimento do Estado nos anos de 1950. Ou seja, um homem antenado com seu tempo. Um homem que conseguiu navegar por nuances tão dispares e contraditórias que seria difícil o entender sem buscarmos antes uma compreensão do contexto histórico mundial daquele período.

Justamente essa aproximação com a esquerda, onde as políticas trabalhistas ganharam força, onde os sindicatos se faziam ver e ouvir com mais frequência, pode ter custado à vida de Getúlio Vargas. E por quê? Simplesmente porque o então presidente ousou quebrar uma ética que já estava enraizada no sistema de pensamento brasileiro, onde o povo era visto como uma massa indócil, fadada a trabalhar e nada mais. Essa quebra da ordem provocou a fúria de setores da direita, entre eles podemos citar seu expoente máximo, o indefectível Carlos Lacerda, da ultra direitista UDN (União Democrática Nacional).

Pois bem, agora vamos chegar ao ponto interessante. Carlos Lacerda gostava de se fazer ouvir e de se fazer ver, lembram-se daquelas figuras caricatas que descrevi no começo do texto? Aqueles personagens que parece terem saído de um catálogo de estereótipos? Pois bem, eis o nosso herói.

Carlos Lacerda costumava usar os microfones para atacar o governo de Getúlio, ele nunca se aprofundava em suas analises e contextualizações, sempre buscava uma explicação simplória e totalizante do mundo. No alto de sua sabedoria dividia o contexto político como: “nós” contra “eles”. Lacerda jamais conseguiu distinguir as contradições existentes dentro do Brasil. Se hoje somos um país díspar, imagine nos idos de 1950.

Para fazer o jogo da direita, Carlos Lacerda fomentava um discurso de ódio contra os investimentos sociais e contra os interesses dos trabalhadores, para ele a economia não poderia sofrer interferência do Estado. Tal discurso ajudou a criminalizar os movimentos sociais. Qualquer coisa que interferisse nos altos lucros que a elite buscava, devia ser combatido com unhas e dentes.

Logo Lacerda se tornou o queridinho da imprensa e das classes médias conservadoras que viam nas políticas sociais um perigo. Na visão deles o povo não estaria preparado para assumir um protagonismo que sempre lhes fora negado. Para isso Lacerda não se envergonhava em fabricar crises políticas. Juntamente com alguns meios de comunicação, manipulava e direcionava fatos, meias verdades eram vomitadas todos os dias. Sempre atendendo interesses de alguns. Não é exagero dizer que foi empregada a tática de Goebbels, a mesma utilizada pelo governo nazista para angariar milhões se seguidores.

Antônio Gramsci já lembrava que em algumas situações, a imprensa se torna um partido da classe dominante justamente nos momentos em que seus partidos políticos não conseguem ocupar o poder de forma legitima. Ou seja, a imprensa, juntamente com alguns setores dominantes consegue criar suas verdades. Conseguem direcionar fatos, conseguem conduzir toda uma população para o caminho que somente interessa a eles.

Há muitas maneiras de se contar a história, podemos fazer paralelos do passado com o presente sem cair no pecado do anacronismo. Isso dá liberdade para ver o atual momento politico brasileiro com um olhar lá atrás.

A banalização do serviço público, sobretudo no Paraná. O descaso com setores importantes para manutenção da sociedade, o absurdo que está acontecendo com a educação paranaense. A venda de empresas estatais a preço de banana, o discurso como se a corrupção tivesse sido inventada agora, o esquecimento que a aproximação dos grandes empreiteiros com o governo foi uma tática do governo militar para promoverem obras faraônicas e dantescas por todo país. Carlos Lacerda vibraria com o que estamos presenciando, a mesma política e discurso defendido por ele sendo empregadas em pleno século XXI.

Enfim…passados 60 anos estamos vendo partidos como PSDB e DEM, de novo com aquela velha explicação simplória e totalizante para um país que se faz cada vez mais complexo em sua essência. O velho maniqueísmo do “nós” contra “eles” está mais vivo do que nunca. O discurso de ódio que a UDN com seu guru Carlos Lacerda fazia tão bem está novamente nos meios de comunicação, em todos os lados. O discurso contra os interesses dos trabalhadores nem precisou ganhar nova roupagem. Estão usando basicamente os mesmos.

Onde quer que esteja, Carlos Lacerda deve estar orgulhoso dos seus pupilos. O lacerdismo vive, e está entre nós.

Austin Andrade*Austin Andrade é Historiador graduado pela Universidade Estadual do Paraná – Unespar, Interprete criador e professor de dança clássica e contemporânea. Escreve todas as segundas-feiras para o Blog do Raoni

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