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Coluna do Rogério Tonet: Realismo (ou “Pragmatismo”) Político: por uma “cidadania reflexiva” – Parte I

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Por Rogério Tonet*

ATENÇÃO: ESTA COLUNA PODE PRODUZIR EFEITOS COLATERAIS, TAIS COMO: DESILUSÃO, SENSAÇÃO DE QUE VOCÊ VIVE EM UMA MENTIRA, DÚVIDAS SOBRE O QUE VOCÊ SEMPRE TOMOU COMO VERDADE, ENTRE OUTRAS. Assista Matrix e veja a realidade que a pílula vermelha vai te mostrar. SE VOCÊ PREFERE CONTINUAR VIVENDO UMA ILUSÃO – PARE POR AQUI…

Na última semana o espaço da coluna foi reservado para abrir a discussão sobre a produção dos discursos políticos e, pretendo retomá-la em momento oportuno. Hoje, apresento uma proposta de análise política pautada na realidade crua e não das fantasiosas idealizações que são vendidas ao público em geral, todos os dias, via os grandes meios de comunicação.

Então, do que se trata o texto de hoje? De uma forma realística de analisar a política, que não foi ensinada na escola e que é o oposto da forma ideal que os telejornais vão tentar impor à sociedade. A idealização “cega” o cidadão comum da política possível, das soluções práticas para os problemas da sociedade, ao mesmo tempo, que cria uma animosidade irracional de que tudo está errado, que não há conserto e que a “solução (idiota) final” é sair do país.

A verdadeira cidadania, que aqui é apenas uma proposta inicial, é a de uma cidadania com capacidade reflexiva – e para tanto, remeto-me ao sociólogo brasileiro Alberto Guerreiro Ramos que apresentava o “homem parentético” como o sujeito que conseguia refletir sobre sua condição e analisar decisões e ações – algo que nos é tolhido quando as verdades vêm prontas e a situação ideal está longe da realidade vivida.

Proponho uma “cidadania reflexiva”, um cidadão que seja dotado de uma capacidade de compreender a política em termos mais amplos e reais, conheça seus direitos e deveres, mas também esteja pronto a “debater o bom debate”.

Hoje, somente uma proposta inicial sobre como podemos alcançar este nível de esclarecimento…

1.o Passo: “desidealizar” a política

Talvez o maior e mais comum erro, que leva a uma análise simplista da situação política é uma excessiva superficialização da questão, motivada pelo desconhecimento e por uma distorção idealizada da política. As pessoas que se deixam levar por esse tipo de simplificação esperam, convictas, que poderá existir uma política perfeita, onde os atos serão perfeitos, os processos da administração pública serão ágeis, o orçamento será suficiente e que os políticos serão “anjos”.

Essa visão idealizada da política despreza as condições reais na qual a política acontece e que esta se desenvolve a partir de pessoas – “humanos” – falhos e, mais importante, que representam interesses e esses são tanto pessoais quanto políticos (visando a sustentação de sua carreira política) e dos grupos dos quais representam, que podem ser tanto os grupos que votam e o apoiam politicamente, quanto seus financiadores de campanha.

Quem produz esse discurso superficial? Em geral, a fonte desta visão simplificada vem da mídia, que simplifica e “pasteuriza” a questão política em duas formas: i) mostrando apenas o lado ruim da política, como uma “psicologia reversa”; e ii) em comparações estapafúrdias! Tenho visto a TV e os jornais “panfletarem” sobre os serviços públicos da Suécia e sobre os custos do congresso holandês, países que, nem em dimensão, nem enquanto história e cultura, poderiam ser comparados ao Brasil!

A outra fonte desta ignorância política vem da falta de uma formação política sistematizada no sistema de ensino…

2.o Passo: “desidealizar” a democracia

A segunda idealização própria do campo social que leva a uma análise irreal das condições sob as quais a política se desenrola é a ideia de “democracia”. A “democracia” em sociedades complexas e de grandes dimensões (países de 100, 200 milhões de habitantes ou mais) resume-se a duas formas básicas: democracia representativa e participativa.

Muito longe do que se espera de um “governo do povo” (de “demos”= povo e “kratos”= poder) a democracia representativa resume-se a um sistema eleitoral que garanta alguma transparência e algum acesso dos cidadãos aos cargos eletivos. No Brasil existe a obrigatoriedade da filiação a partidos políticos que somada à obrigatoriedade de voto… o que reduz ainda mais as opções do cidadão.

A grande novidade é a democracia participativa, que é fruto dos movimentos de 1968 e que, no Brasil, se tornou operacional a partir da Constituição de 1988 e da legislação complementar que a seguiu, possibilitou o surgimento dos “Conselhos de Políticas Públicas”, que juntamente com outras entidades da Sociedade Civil Organizada, passam a agir como fóruns de discussão e deliberação para o estabelecimento de estratégias de ação e de aplicação de recursos nas diversas áreas da administração pública.

A teoria política chama estes espaços de deliberação de “Janelas de oportunidade de participação” e, no Brasil, vemos que estes espaços tem se proliferado sem o aumento proporcional do interesse da população em geral.

Em vez de discutir “Democracia”, uma visão mais pragmática do jogo político seria a discussão nos moldes que propõe Robert Dahal, ou seja, da “Poliarquia”. Dahal descreve o sistema político das nações como sendo uma concorrência entre grupos de interesse pelo poder dentro de um sistema eleitoral relativamente justo – uma visão mais próxima da que vivemos, sem idealismos.

3.o Passo: a política como jogo de poder

Sobre o que trata a política? Poder, poder e poder!… É preciso deixar a “inocência” da discussão política! Não há que se pensar somente na busca pelo “bem comum” de Rousseau, mas incluir – em alto grau – o “homem lobo do homem” de Hobbes e a realidade dura das estratégias do Príncipe de Maquiavel!

Retomo o autor americano Dahal para chamar os interessados em um debate sério a pensar em política como um jogo de poder. Algumas regras para analisar este jogo estão descritas na Constituição Federal, na Legislação Eleitoral e na Legislação própria da Administração Pública, outras, vem das pressões da sociedade, tais como “mercado”, “movimentos sociais”, política internacional, imprensa, etc.

Os “players” são os grupos de interesse que agrupam-se em partidos e estes lançam candidatos. Nesta visão, candidatos são apenas uma personificação destes interesses e os projetos políticos (não apenas o que consta no “plano de governo”) representam sua agenda, ou a forma de operacionalizar estes interesses.

Conclusão?

Não concluo hoje, pois este é apenas a primeira parte das discussões que pretendo promover, mas a principal constatação que o leitor deve estar chegando é que se deve considerar que a “política ideal” pregada pelos meios de comunicação é tão utópica quando o socialismo que os mesmos meios não cansam de atacar.

Assim, espero que contribua para a existência do tal “cidadão reflexivo” que aqui se propõe, que age, discute, participa e vota, segundo uma análise consciente e racional.

Sem idealismos, mas com muitos ideais!

Rogério Tonet* Rogério Tonet é professor e consultor. Administrador, Mestre (UFPR, 2004) e doutor em Administração (UFSC, 2014), especialista em Marketing e Recursos Humanos. Pesquisador nas áreas de movimentos sociais, democracia participativa e formas alternativas de ocupação e renda. Escreve para o Blog do Raoni todas as quartas-feiras.

4 Comentários

4 Comments

  1. Leandro

    4 de fevereiro de 2015 às 12:00

    Olá Rogério e Raoni. Primeiro estão de parabéns porque o espaço aqui está muito bom.
    Segundo, Rogério gostaria de entender mais como na sua visão podemos ser mais participativos na sociedade nos moldes como ela se organiza hoje. Abraço e obrigado.

  2. Patrícia

    5 de fevereiro de 2015 às 7:07

    Estou gostando muito dos textos. Acho interessante utilizar ferramentas assim para um debate mais aprofundado. Gostaria de perguntar qual a sua opinião em relação ao sistema de governo de coalisão? Você não acha que em nossa democracia esse sistema prejudica o refinamento ideológico dos partidos?

  3. Rogério Tonet

    5 de fevereiro de 2015 às 8:28

    Caro Leandro!

    Obrigado pela “audiência”!! :)

    A questão que você levanta é complexa e, acredito, que será tratada neste espaço a cada semana. Acredito que para uma participação efetiva e cidadã, em primeiro lugar, precisamos nos conscientizar sobre os mecanismos sobre os quais a vida social se desenrola; a partir desta “tomada de consciência”, podemos passar a participar de debates, com o intuito de conscientizar os outros (lembre-se: NUNCA SABEMOS TUDO… E NÃO SOMOS DONOS DA VERDADE!! Apenas penso que esta conscientização leva a uma análise mais realista sobre “como as coisas funcionam”… as conclusões virão da experiência de cada um); a seguir, é necessário participar das tais “janelas de oportunidade” às quais o texto se refere… existem muitas!!!

    Boa sorte e boa luta!

    Rogério

  4. Rogério Tonet

    5 de fevereiro de 2015 às 8:34

    Caro Patricia!

    Obrigado, continue lendo os textos!!! Agradecemos muito!!! :)

    Boa pergunta!!! A coalizão é uma regra posta no jogo… o importante é estudar como as coalizões se constroem em cada momento político. Quais as forças, os discursos e os interesses das forças em coalizão…

    Outra forma de agir é mudar a regra do jogo… e para isso existem várias propostas de reforma política que modificam “formalmente” as coligações entre partidos (forma “partidária” das coalizões)… e essa discussão é importante… mas, lembre-se, todo governo será uma coalizão de vários interesses, pois não existem grupos suficientemente grandes e uniformes para serem eleitoralmente viáveis “sozinhos”.

    Boa sorte e boa luta!

    Rogério

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