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Coluna da Paula Fernandes

Coluna da Paula Fernandes: Black Power

Coluna da Paula Fernandes - 3Quando a gente começa a estudar o feminismo, a gente percebe que mesmo dentro do movimento há muitas vertentes. E uma das que mais carece de luta, na minha opinião, é o feminismo negro. Sim, porque as mulheres negras são ainda mais subjulgadas, esteriotipadas e vítimas de um ‘embranquecimento obrigatório’ imposta pela nossa sociedade.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012, 51,7% da população feminina no Brasil é composta por negras. No Sul, a região com a menor estatística do País, 21,3% das mulheres são negras. Ainda assim, não vemos o mesmo espaço para elas na TV, nas capas de revista e em outros lugares de destaque. São obrigadas a esconder sua negritude ao se ‘maquiarem’ de brancas: alisando os cabelos, não reconhecendo a sua cor, sujeitando-se a lugares e situações menores. Por que? Porque falta identificação.

Imagine a situação: você nasce negra, com o cabelo crespo, mas as mulheres que você cresce admirando (porque estão na mídia e atendem a um determinado padrão) são completamente o seu oposto. Loiras, brancas, olhos claros. Então, desde a infância, é aprendido que é preciso se tornar branco para ‘ser alguém’.

Infelizmente, essa realidade é bem latente. Aqui em Campo Mourão, o desabafo de uma mulher no Facebook no dia 18 de agosto evidencia esse preconceito vestido de bom moço. “E tem gente hoje em dia, que ainda enche a boca para dizer que vivemos em uma época onde temos liberdade, liberdade de expressão! Mas que liberdade é essa?? Onde existe o modelo a ser seguido: corpo magro de preferência bem torneado, pele clara, cabelo liso (de preferência escorrido e comprido)… e ai cadê a liberdade de expressão??? Porque é o seguinte se você foge de um desses quesitos, ja sofre com preconceito! Haha ainda mais se foge de todos eles, que é o meu caso! O cabelo então nem se fala, nossa como o meu cabelo incomoda as pessoas… e o pior de tudo é que elas não conseguem disfarçar, simplesmente apontam, dão risada e fazem piadas do tipo: Olha o tipo daquela guria com aquelê cabelo “ruim” ou coisas do tipo: ja não basta ser neguinha e ainda tem que usar aquele cabelo pra chamar atenção… SIM eu ouvi tudo isso hj, quando voltava do serviço! E o que mais me dói é que pessoas assim convive com crianças e infelizmente vai passar esse tipo de pensamento “ruim” em diante!  A cor da minha pele e meu tipo de cabelo te incomoda?? Que pena! Pois eu sou muito feliz assim é só mais um aviso, pra mim quanto maior for meu Black Power melhor!”.

As estruturas sociais, o que aceitamos e julgamos ‘comum’, são historicamente construídos e atendem a interesses de uma população ‘dominante’. E isso precisa mudar. Somos um País lindo porque somos coloridos. Porque há, em nós, a diversidade. É triste que em pleno 2015 ainda encontremos quem pense dessa maneira. Mais ainda, quem coloque o outro em uma situação desagradável apenas para se sentir por cima.

Não há problema nenhum em alisar o cabelo, mas é preciso que o façamos porque queremos, não por não nos sentimos bem em aceitar as nossas madeixas na sociedade racista em que vivemos. Cabelo cacheado/crespo é, sim, uma maneira de resistência e luta. Precisamos entender que, por trás dos nossos cabelos, há muito mais que uma ‘modinha’. Nossos cabelos falam muito antes de abrirmos a nossa boca e assumir a naturalidade deles é nos posicionarmos contra os padrões eurocêntricos que a sociedade impõe. Resista!

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